"Eu
estava deitado na sala da UTI do hospital infantil de Seattle, Estado
de Washington, EUA, quando, de repente, senti-me em pé, movendo-me com
incrível velocidade através de um espaço escuro. Eu não via paredes em
minha volta, no entanto, parecia ser algo como um túnel. Não sentia
vento, porém, percebia que me deslocava com incrível velocidade. Apesar
de não entender o porque e para onde eu estava voando, sentia que no
final do meu vôo algo muito importante me esperava e eu queria chegar ao
meu destino o mais rápido possível. Finalmente, eu me via em um lugar
repleto de luz brilhante e então percebi que havia alguém perto de mim.
Era alguém alto, com longos cabelos dourados; vestia roupa branca
amarrada no meio com um cinto. Ele não dizia nada, mas eu não tinha medo
pois, uma enorme paz e amor emanavam dele. Se não era Cristo, devia ser
um de seus anjos".
Este
é um dos relatos típicos, reunidos pelo médico pediatra americano Dr.
Melvin Morse e publicados no livro "Closer to the Light" ('Mais Próximo
da Luz'). Depois disso, o garoto Dean, de 16 anos, cujos rins pararam de
funcionar, sentiu que retornou ao seu corpo e voltou a si. Tais
impressões, tão curtas porém muito fortes, deixaram uma marca profunda
na alma de Dean. A partir delas, ele se tornou um jovem religioso, o que
influenciou positivamente a sua vida e a sua família.
Dr. Morse
observou o primeiro caso de morte temporária no ano de 1982, quando
conseguiu fazer reviver uma menina de 9 anos chamada Catarina, que se
afogara numa piscina pública. O relato da menina teve um profundo efeito
no médico, que até então era cético em relação a todo fenômeno
espiritual: uma impressão tão forte que ele resolveu dedicar sua vida ao
estudo científico do que acontece com uma pessoa logo após a morte. No
caso de Catarina, Dr. Morse admirou-se particularmente com a descrição
detalhada que a menina deu de tudo o que sucedeu na hora em que se
encontrava morta clinicamente, tanto no hospital, como em sua casa. Dr.
Morse se convenceu da veracidade de todas as observações de Catarina.
Após
ter sido transferido para o Hospital Infantil Ortopédico de Seattle, e
mais tarde, ao Centro de Medicina de Seatle, Dr. Morse começou a estudar
sistematicamente a questão da morte. Ele questionava muitas crianças,
às quais tiveram a experiência da morte clínica; comparava e documentava
os relatos. Além disso, ele continuava a manter contato com seus jovens
pacientes e observava o seu desenvolvimento intelectual e espiritual a
medida que eles cresciam. No seu livro, Dr. Morse afirma que todas as
crianças que ele conheceu, que sobreviveram à morte temporária, ao
crescer, tornaram-se jovens sérios e religiosos, moralmente mais "puros"
que outros jovens que não passaram por tal experiência. Todos eles
aceitaram o ocorrido como um sinal superior de que é preciso viver para o
Bem.
Relatos semelhantes sobre a vida após a morte, até há pouco
tempo, eram publicados apenas na área da literatura religiosa. As
revistas populares e livros científicos via de regra evitavam esses
temas. A maior parte dos médicos e psiquiatras mantinham uma postura
negativa em relação a essas manifestações. Apenas de duas décadas para
cá, representantes da medicina começaram a se interessar seriamente
sobre a questão da existência da alma.
Entre as pesquisas sérias e
sistemáticas sobre a questão da morte, inclui-se a realizada pelo Dr.
Michael Sabom. Professor de medicina na universidade de Emory e médico
no hospital para veteranos da cidade de Atlanta, publicou um livro com
dados precisos e documentados, bem como análises aprofundadas a respeito
do assunto. Também é valiosa a pesquisa sistemática do psiquiatra
Kenneth Ring, publicada no livro "Life at Death" ('Vida na Morte'). Dr.
Ring montou um questionário para ser respondido pelos sobreviventes à
morte clínica. Nomes de outros médicos que se envolveram nessa questão
estão citados na bibliografia ao final do texto. Muitos deles eram
céticos que mudaram sua perspectiva ao analisar muitos e sempre novos
casos confirmando a realidade da continuidade da consciência (alma) após
a morte física.
O que a alma vê no "outro mundo"...
A
morte não é como muitos a imaginam. Tudo indica que, na hora da morte,
teremos que ver e passar por muitas coisas para as quais muitos não
estão preparados. Reunindo os relatos das pessoas que sobreviveram à
morte clínica, emerge o seguinte quadro do que a alma vê e experimenta,
ao separar-se do corpo: quando a morte se processa e a pessoa atinge o
limite de desfalecimento, normalmente ela pode ouvir quando o médico a
declara morta. Em seguida, ela vê um "sósia" seu, - seu próprio corpo
inerte, - deitado abaixo dela, e muitas vezes até os médicos e
enfermeiros tentando revivê-lo. Essas imagens inesperadas podem provocar
um grande choque na pessoa: ela se vê "do lado de fora”. E aí verifica
que suas capacidades habituais (ver, ouvir, pensar, sentir, etc.)
continuam a funcionar normalmente, só que agora independentes do corpo
físico. Flutuando no ar, acima dos outros que se encontram no ambiente, a
pessoa instintivamente tenta comunicar-se, dizer algo ou tocar alguém.
Mas percebe que está isolada dos outros e que ninguém reage aos seus
apelos. Além disso, ela fica admirada ao sentir alívio, serenidade e/ou
alegria indescritíveis. Não há mais aquela parte do "eu" que sofria,
exigia algo e queixava-se sempre de tudo. Sentindo tal alívio, a alma
normalmente não quer voltar ao corpo.
Na maioria dos casos
documentados da morte temporária, a alma, após observar por alguns
momentos o que se passa ao redor, volta ao seu corpo físico, e nesse
momento, o conhecimento do outro mundo é interrompido. Mas, às vezes, a
alma dirige-se adiante para o mundo espiritual. Nesses casos, alguns
descrevem essa sensação como o movimento dentro de uma espécie de túnel.
Após isso, as almas de algumas pessoas vão para um mundo de grande
beleza, onde às vezes encontram parentes já falecidos. Outras vão parar
numa região de luz e encontram-se com um "ser de luz", do qual emanam
grande amor e compreensão. Alguns afirmam que é Jesus Cristo, outros que
é um anjo. Mas todos concordam que se trata de alguém repleto de
bondade e compaixão. Alguns, porém, vão parar em lugares tenebrosos e,
voltando, descrevem terem visto seres cruéis e repugnantes. Ás vezes, o
encontro com o misterioso ser luminoso é acompanhado de uma "revisão" da
vida, quando a pessoa começa a relembrar o seu passado e faz uma
avaliação moral dos seus atos. Após isto, alguns vêem algo semelhante a
uma “divisão” ou fronteira. Eles sentem que, uma vez ultrapassada esta
fronteira, não poderão voltar ao mundo físico.
Mas nem todos os
que sobreviveram à morte temporária passaram por todas essas fases. Uma
grande porcentagem das pessoas que voltaram à vida não se lembra de
nada. As etapas citadas são colocadas em ordem de sua frequência
relativa, começando com as que ocorrem mais frequentemente e terminando
com as que são mais raras. Segundo os dados do Dr. Ring, aproximadamente
um em cada sete que se lembram da existência fora do corpo, viu a luz e
interagiu com o ser de luz.
Graças ao progresso da medicina, a
reanimação dos mortos passou a ser um procedimento quase padrão em
muitos hospitais atuais. Antigamente, isso quase não existia. Por isso,
existe uma certa diferença entre os relatos da vida pós-morte na
literatura antiga, mais tradicional, e na moderna. Os livros religiosos
mais antigos contam sobre visões do Paraíso ou do Inferno e sobre
encontros com anjos ou demônios. Esses relatos podem se chamar de
descrições do "cosmo distante", já que retratam o mundo espiritual
distante de nós. Os relatos modernos, anotados pelos médicos, descrevem
principalmente quadros do "cosmo próximo": as primeiras impressões da
alma que acaba de deixar o corpo. Esses relatos são interessantes, pois
complementam a primeira categoria de relatos (dos tempos mais antigos) e
nos dão a possibilidade de entender com mais clareza aquilo que espera
cada um de nós. Entre estas duas categorias, está a descrição de K.
Ixcul, publicada pelo Arcebispo Nikon (Igreja Ortodoxa Russa), em 1916,
sob o título "Inacreditável Para Muitos, Mas Aconteceu" que abrange os
dois mundos - o "distante" e o "próximo”. Em 1959, esta obra foi
reeditada.
K. Ixcul era um típico jovem intelectual da Rússia
antes da revolução. Ele foi batizado quando criança e cresceu no meio
ortodoxo, mas como era comum entre os intelectuais, era indiferente à
religião. Entrava numa igreja de vez em quando, comemorava as festas de
Natal e Páscoa e até comungava uma vez por ano, mas considerava muitos
ensinamentos do cristianismo católico ortodoxo como superstições
arcaicas, inclusive o ensinamento sobre a vida após a morte. Ele tinha
certeza de que, com a morte, terminava definitivamente a existência do
ser humano. Certa ocasião, ele teve uma grave pneumonia, que não sarava
se tornou muito séria. Enfim, foi internado. Ele não pensava sobre a
morte que se aproximava, e esperava ficar bom logo e recomeçar suas
atividades habituais. Certa manhã, de repente, sentiu-se muito bem. A
tosse passou, a febre baixou. Ele pensou que estava curado. Mas, para
seu espanto, os médicos ficaram preocupados e trouxeram oxigênio.
Depois, calafrios e uma completa apatia por tudo o que ocorria em sua
volta. Ele conta:
"Toda a minha atenção concentrou-se em mim
mesmo... é como se ocorresse bipartição... apareceu o ‘homem interior’,
que tinha total indiferença ao corpo exterior e ao que ocorria com
ele... Era espantoso ver e ouvir e ao mesmo tempo sentir desinteresse em
relação a tudo. O médico faz uma pergunta, eu ouço, entendo, mas não
respondo. Não tenho porque falar com ele... E de repente, fui puxado
para baixo, para a terra, por uma força enorme. Eu me agitei. ‘Agonia’,
disse o médico. Eu entendia tudo, mas não sentia medo. Lembrei-me de ter
lido que a morte é dolorosa, mas não sentia dor. No entanto, sentia um
pesar. Eu era puxado para baixo... Eu sentia que algo deveria
desprender-se... Fiz um esforço para me libertar e, de repente, senti-me
leve. Eu senti paz. Lembro-me claramente do restante. Eu estou em pé no
meio do quarto. A minha direita, formando semicírculo em torno da cama,
estão os médicos e as enfermeiras. Eu estava surpreso: o que eles estão
fazendo lá, já que eu não estou lá, estou aqui? Aproximei-me para
olhar. Deitado sobre a cama, estava eu. Ao ver o meu ‘dublê’, não me
assustei, mas fiquei surpreso - como é possível? Eu quis tocar em mim
mesmo: minha mão atravessou, como se tivesse atravessado o vazio. Não
consegui também tocar os outros. Não sentia o chão... Eu chamei o
médico, mas ele não reagiu. Eu entendi que estava completamente só, e
entrei em pânico. Olhando o meu corpo físico, pensei: 'Será que eu
morri?' Mas isso era difícil de admitir. Eu me sentia mais vivo do que
antes, sentia tudo e entendia. Após um certo tempo, os médicos saíram do
quarto, os dois enfermeiros começaram a discutir detalhes da minha
enfermidade e da morte, e a auxiliar fez o sinal da Cruz e em voz alta
desejou-me o habitual: ‘Que ele tenha o Reino dos Céus, e paz eterna’.
Mal ela pronunciou essas palavras, apareceram dois anjos. Um deles, eu
imediatamente o reconheci, era o meu anjo da guarda, o outro eu
desconhecia. Os dois anjos, pegando-me sob os braços, levaram-me para a
rua, direto através da parede do hospital. Já escurecia e nevava. Eu via
isso, mas não sentia nem o frio e nem mudança de temperatura. Nós
começamos a subir rapidamente".
Graças às novas pesquisas na
área da reanimação e coletando diversos relatos dos sobreviventes à
morte clínica, é possível formar um quadro detalhado, sobre o que a alma
vivencia logo após a separação do corpo. Claro que cada caso tem suas
características individuais, que os outros não têm. É natural, porque
quando a alma vai para o "além" é como se ela fosse um bebê recém
nascido com a visão e audição ainda não desenvolvidos. Por isso, as
primeiras impressões das pessoas têm caráter subjetivo. No entanto, no
seu conjunto, elas ajudam a formar um quadro bastante sólido e coeso,
ainda que não totalmente compreensível para nós.
A seguir, os
momentos mais característicos das experiências do "outro mundo" cuja
fonte são os estudos recentes sobre vida após a morte.
1) Visão do "dublê":
Tendo morrido, o homem não se dá conta disso, imediatamente. E só
depois de se ver deitado e inerte, embaixo de si mesmo, convence que é
incapaz de comunicar-se, e percebe que a sua alma saiu do corpo. Às
vezes, acontece que, após um desastre inesperado, quando a separação do
corpo físico ocorre brusca e inesperadamente, a alma não reconhece o seu
corpo e pensa que está vendo alguém parecido com ele. A visão do
“dublê” e a incapacidade de comunicar-se provocam um grande choque na
alma, de modo que ela não tem certeza se isto é sonho ou realidade.
2) Consciência não rompida:
Todos os sobreviventes à morte temporária testemunham que conservaram
totalmente o seu "eu" e todas as suas capacidades mentais, sensoriais e
de vontade. Mais que isso, a visão e a audição tornam-se até mais
aguçadas, o raciocínio fica mais claro e torna-se mais enérgico e a
memória torna-se lúcida. Pessoas que he muito tempo perderam alguma
capacidade em conseqüência de doença ou da idade, a recuperam.
Percebe-se que é possível ver, ouvir, pensar e sentir, mesmo não tendo
órgãos físicos. É particularmente fantástico, por exemplo, que um cego
de nascença, tendo saído do corpo, viu tudo que era feito com o seu
corpo pelos médicos e enfermeiros; e ao retornar, após relatar todo o
ocorrido, voltou a ser cego. Os médicos e psiquiatras, que associam as
funções de pensar e de sentir aos processos químico-elétricos no
cérebro, devem levar em conta esses dados modernos, compilados por
médicos - reanimadores para entender corretamente a natureza humana.
3) Alívio:
Normalmente, a morte é precedida pela doença e sofrimento.Ao sair do
corpo a alma se alegra, pois nada mais dói, nada oprime, nada sufoca, a
mente funciona claramente, os sentimentos apaziguados. O homem começa a
identificar-se com a alma, e o corpo parece ser algo secundário e
inútil, como tudo que é material. "Eu saio, e o corpo é um invólucro
vazio" - explica um homem que sobreviveu à morte temporária. Ele
assistiu à sua cirurgia cardíaca como se fosse um "espectador." As
tentativas de reanimar o seu corpo, absolutamente não o interessavam.
Aparentemente, ele tinha se despedido mentalmente da vida terrena e
estava pronto para iniciar uma nova vida. Entretanto, permanecia com ele
o amor pela família e preocupação com os filhos que deixava. Deve-se
notar que, nesse momento, mudanças radicais no caráter do indivíduo não
ocorrem. O indivíduo permanece o mesmo que era. "A suposição que,
abandonando o corpo, a alma imediatamente passa a conhecer e entender
tudo, é falsa. Eu vim para esse novo mundo do mesmo jeito como saí do
velho," - conta K. Ixcul.
4) O Túnel e a Luz:
Após a visão do seu próprio corpo físico e do ambiente que o rodeia,
algumas almas continuam no outro mundo espiritual, enquanto outras não
passam pela primeira fase ou não reparam nela e vão direto para o
segundo estágio. A passagem para o mundo espiritual, alguns descrevem
como sendo uma viagem através do espaço escuro, lembrando um túnel, no
final do qual eles vão parar numa região de luz não terrena. Existe um
quadro do século XV, de Jerônimo Bosch (1450 - 1516), intitulado
"Ascensão ao Empírico" (abaixo) que representa algo semelhante à
passagem da alma pelo túnel. Isso pode significar que mesmo naquele
tempo alguém já tinha acesso a esse conhecimento.
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A
maioria testemunha sobre a Luz, como sendo um “ser” moralmente bondoso,
e não como uma energia impessoal, alguém que leva paz e amor. No
encontro com a Luz, eles não conversam em nenhum idioma. A Luz se
comunica com eles “mentalmente”. Nesse momento, tudo era tão claro, que
seria absolutamente impossível esconder algo da Luz.
5. Revisão e julgamento:
Alguns, que sobreviveram à morte temporária, descrevem a etapa de
“revisão da vida” que tiveram. Às vezes, a revisão ocorria durante a
etapa da visão da Luz, quando o homem ouvia da Luz uma pergunta do tipo:
“O que você fez de bom?" A pergunta não era feita para se saber algo,
mas para que a pessoa pudesse recordar a sua vida. E assim, o “filme” da
vida terrena individual “passava” perante sua visão espiritual,
começando desde a tenra infância. O “filme da vida” se move como uma
sequência de quadros de episódios da vida, um após o outro, e a pessoa
vê claramente e com detalhes tudo que aconteceu com ela. Nesse momento,
se revive conscientemente e se reavalia tudo aquilo que se viveu. Eis um
dos casos típicos que ilustra o processo da revisão:
"Quando a Luz
chegou, ouvi a pergunta: ‘O que você fez em sua vida? O que pode me
mostrar?’ ou algo semelhante a isso. E então, começaram a aparecer esses
quadros. Eram quadros muito nítidos, coloridos, tridimensionais e em
movimento. Toda a minha vida passou por mim... Eis eu, ainda uma menina
pequena, brincando com a irmã perto do riacho... Depois, os
acontecimentos da minha casa... escola... casamento... Tudo seguia na
minha frente com todos os detalhes minúcias. Eu revivia esses
acontecimentos... Eu vi às vezes em que fui cruel e egoísta. Senti
vergonha de mim mesma e desejava que isto nunca tivesse acontecido. Mas,
era impossível mudar o passado..." (‘Life after life’, pg. 65-68)
Reunindo
muitos relatos de pessoas que passaram pela revisão da vida, deve-se
concluir que ela sempre deixa nelas uma impressão profunda e benéfica.
Realmente, durante essa revisão, a pessoa é forçada a reavaliar seus
atos, fazer o balanço do seu passado e assim é como se fizesse um
julgamento sobre si mesmo. Na vida diária, as pessoas escondem o lado
negativo do seu caráter e escondem-se atrás de uma “máscara de virtude”,
para parecerem melhores do que realmente são. A maioria das pessoas
está tão acostumada com a hipocrisia, que deixaram de ver o seu
verdadeiro eu. Mas, no momento da morte, essa máscara cai e a pessoa se
vê tal qual realmente é. Principalmente, no momento da revisão, torna-se
visível a cada um os seus atos ocultos: ouve-se cada palavra dita, cada
acontecimento esquecido é revivido. Nesse momento, tudo que se
conseguiu durante a vida - situação sócio-econômica, diplomas, títulos,
etc. perde seu sentido. A única coisa que serve para avaliação é o lado
moral dos atos. E, nessa hora, a pessoa se julga não apenas pelo o que
ela fez, mas também, como seus atos e palavras influenciaram outras
pessoas. Outra pessoa descrevendo a revisão da sua vida:
"Senti-me
fora do meu corpo, flutuando sobre um edifício, e vi o meu corpo
deitado lá embaixo. Depois, uma luz me envolveu e nela eu vi como se
fosse um filme de toda a minha vida. Senti-me muito envergonhado, porque
muito do que eu antes considerava normal e aprovava, agora entendi que
não era bom. Tudo era extremamente real. Eu sentia que um julgamento
ocorria comigo e que uma razão superior me comandava e me ajudava a ver.
O que mais me impressionou foi que me foi mostrado não apenas o que fiz
mas como meus atos influenciaram outros... Aí eu entendi, que nada se
apaga e nem passa em branco, mas que tudo, até os pensamentos, tem
consequências." (‘Reflections on Life after Life’, pg. 3,4-5)
Se
perguntar a alguém que experimentou a morte clínica, quanto tempo durou
este estado, normalmente ele não é capaz de responder. As pessoas
perdem completamente a noção do tempo.
"Poderia ter sido alguns minutos, ou anos, não há nenhuma diferença" (‘Reflections on Life after Life’, pág.s 101; ‘Recollections of Death’, pág. 15).
7. O aspecto da alma:
Quando a alma abandona o seu corpo, desaparecem marcas da idade; as
crianças se vêem adultos, os velhos, moços (‘The Light Beyond’, pág.
75-76). As partes do corpo, por exemplo, mãos ou pernas perdidas por
algum motivo, aparecem novamente. Os cegos voltam a enxergar.
8. Encontros:
Alguns relatam encontros com parentes ou conhecidos já falecidos. Esses
encontros às vezes aconteciam em condições terrenas, e às vezes em
ambientes do outro mundo. Assim, por exemplo, uma mulher que passou pela
morte temporária, ouviu os médicos dizendo aos seus parentes que ela
estava morrendo. Tendo saído do corpo, viu seus parentes e amigos
falecidos. Ela os reconheceu e eles estavam alegres por reencontrá-la.
Outra mulher viu seus parentes que a cumprimentavam e apertavam suas
mãos. Eles estavam vestidos de branco, estavam contentes e pareciam
felizes:
"..E de repente, virando de costas para mim, começaram a
afastar-se. A minha avó, virando-se por sobre o ombro, me disse: ‘Nós te
veremos mais tarde, não desta vez’. Ela tinha morrido aos 96 anos, mas
lá parecia ter 40-45 anos, sadia e feliz". (Life After Life, pág. 55)
10. O Limiar:
Alguns, estando no outro mundo, descrevem algo que parece ser uma
divisa ou fronteira. Alguns a descrevem como sendo uma cerca ou grade na
extremidade de um campo, outros como a beira de um lago ou de um mar,
outros ainda como um portão, rio ou nuvem. A diferença na descrição
decorre de novo da recepção subjetiva de cada um. O importante, no
entanto, é que todos a compreendam exatamente como uma fronteira,
atravessando a qual, não há mais retorno ao mundo anterior. Depois dela,
começa a viagem para a Eternidade.
11. O Retorno:
Às vezes, é dado ao recém-falecido a possibilidade de escolha: ficar ou
retornar à vida na Terra. A voz da Luz pode perguntar, por exemplo:
"Você está pronto?" Assim, o soldado ferido seriamente no campo de
batalha viu seu corpo aleijado e ouviu a voz. Ele pensava que quem
conversava com ele era Jesus Cristo. Foi lhe dado a possibilidade de
voltar ao mundo terrestre, onde ficaria aleijado, ou ficar no "além." O
soldado preferiu voltar. Muitos são atraídos de volta pelo desejo de
concluir a sua missão terrena. Tendo voltado, afirmam que Deus permitiu a
eles retornar e viver porque a sua missão de vida não estava concluída.
Esta escolha foi satisfeita porque ela era fruto do senso de dever e
não por motivos egoístas.
12. Uma Nova Atitude em Relação à Vida:
Pessoas que estiveram mortas e viveram experiências "extra-físicas"
apresentam grandes mudanças. Segundo afirmativa de muitos deles, ao
voltar, procuram viver melhor. Muitos deles passaram a crer em Deus com
mais convicção, mudaram seu modo de vida, tornaram-se mais sérios e mais
profundos. Alguns até mudaram de profissão, indo trabalhar em hospitais
e asilos de idosos, para ajudar os que necessitam. Todos os relatos de
pessoas que passaram por morte temporária falam de fenômenos totalmente
novos para a ciência, mas não para as religiões.
Mas nem todos os
temporariamente mortos viram a luz. Os estudos detalhados do Dr. Ring
mostram que a Luz aparece a uma porcentagem relativamente pequena das
pessoas que tiveram experiências de morte temporária. Dr. Maurice
Rawlings, que reanimou pessoalmente muitos moribundos, afirma que,
percentualmente, o número de pessoas que vêem trevas e horrores é
tecnicamente o mesmo do que as que vêem a Luz. Essa é a opinião também
do Dr. Charles Garfield, que lidera pesquisas na área dos estados
próximos à morte. Ele escreve:
"Nem todos morrem de uma forma
tranquila e agradável... Entre os pacientes questionados por mim, há
quase o mesmo número de pessoas que experimentaram sensações
desagradáveis e/ou encontros com seres semelhantes ao demônio, quanto as
que tiveram sensações agradáveis. Alguns deles experimentaram ambas as
sensações" (10, pág. 54-55).
Há base para supor que muitos,
consciente ou inconscientemente, calam sobre suas sensações
desagradáveis pós-morte. A impressão do Dr. Rawlings é que algumas
visões são tão horríveis que o inconsciente das pessoas que as viram,
automaticamente as apaga da memória (esquecimento seletivo). No seu
livro, traz exemplos dessas amnésias. Além disso, pessoas que tiveram
visões luminosas demonstram uma maior disposição para relatar suas
experiências do que as que tiveram visões terríveis. Desta forma, foram
detectados dois fatores que desequilibram a preponderância dos
relatórios:
a) o processo da amnésia seletiva e
b) não querer “espalhar” coisas ruins a respeito de si mesmo.
Tudo
leva a crer que essas diferenças radicais na qualidade das experiências
depende diretamente daquilo que a pessoa foi em vida. Dependem,
basicamente, do que ela acredita e de qual foi o seu modo de vida até a
experiência. Os suicidas, especialmente, vivem experiências
aterrorizantes. A impressão comum dos médicos reanimadores é que o
suicídio provoca um terror realmente extraordinário. Dr. Bruce Greyson,
psiquiatra do setor do pronto-socorro junto à Universidade de
Connecticut, tendo estudado essa questão, testemunha que,
"dentre os que passaram pela morte temporária, ninguém, por nada, quer acelerar o fim da sua vida".
Apesar do "outro mundo" ser incomparavelmente melhor que o nosso, a
nossa vida aqui tem um significado preparatório muito importante.
Somente Deus decide quando o homem está suficientemente maduro para a
eternidade.
O conhecido pesquisador Carl Osis testemunha que,
durante a pesquisa na Índia, revelou-se que durante o processo da morte
aproximadamente um terço dos hindus experimenta medo, depressão e grande
nervosismo pela aparição de
"yamdats”, os demônios do além.
Aparentemente, o hinduismo pode proporcionar uma aproximação com forças
indesejáveis, o que se manifesta em visões assustadoras nos momentos que
precedem a morte.
Segundo o Bispo Alexander Mileant, da Igreja Ortodoxa Russa:
"Se
o homem é orgulhoso e deseja ardentemente ver algo sobrenatural,
milagroso, algo que outras pessoas não conseguem, ele se encontra em
grande perigo de tomar o demônio por anjo. Na literatura espiritual,
este estado chama-se 'sedução' (‘pvélest’ em russo)
. Correm
perigo de cair nesta 'sedução' os servidores de Deus vaidosos, os
'profetas' e curandeiros autodenominados e também pessoas que praticam
mística pouco saudável... Dos relatos das pessoas que passaram por morte
temporária não se apreende que eles praticassem algo semelhante. Na
maioria dos casos, eram pessoas comuns, que por força de uma ou outra
doença física morreram, mas, graças aos esforços dos médicos e ao
sucesso da medicina moderna, foram reanimadas. Elas não esperavam ter
nenhuma visão sobrenatural, e aquilo que lhes foi dado ver, foi obra da
Misericórdia Divina, para que elas encarassem a vida de uma forma mais
séria. Nos livros ortodoxos a respeito da vida pós morte há relatos
sobre aparições de demônios aos moribundos e sobre a passagem das almas.
No entanto, esses livros mostram que os demônios, normalmente, começam a
atemorizar a alma após a chegada do anjo da guarda, que a acompanha no
caminho ao Trono de Deus. Além disso, na presença do anjo, os demônios
são obrigados a mostrar-se com sua real aparência abominável. Deus, por
sua Misericórdia, mostra essa Luz maravilhosa para reforçar a vida na
virtude. O contato com essa Luz sempre revela sentimentos de paz e
felicidade. A luz do demônio, ao contrário, traz consigo um sentimento
de obscura inquietação. Ela incute no homem um sentimento de
superioridade, promete conhecimentos, mas não há amor nela, é uma luz
fria".
A Sra. Beverly, aos 47 anos (um caso famoso entre os
especialistas), contou como está feliz por estar viva. Desde a infância,
ela sofreu muito nas mãos de pais cruéis que a torturavam diariamente.
Já na maturidade, ela não podia contar sobre sua infância sem ficar
estressada. Uma vez, quando estava com 7 anos, levada ao desespero pelos
pais, atirou-se no chão de cabeça para baixo e quebrou a cabeça no
piso. Durante a sua morte clínica, sua alma viu as crianças, suas
conhecidas, em torno do seu corpo inerte. De repente, uma luz brilhante
apareceu, e uma voz desconhecida lhe disse: "Você cometeu um erro, sua
vida não lhe pertence e você deve voltar". Beverly retrucou: "Mas
ninguém me ama e ninguém quer cuidar de mim". - "Isso é verdade" - disse
a voz - "e no futuro ninguém vai cuidar de você. Por isto, aprenda a se
cuidar". Após estas palavras, Beverly viu neve à sua volta e uma árvore
seca. Mas, de algum lugar veio calor, a neve derreteu e os galhos secos
da árvore cobriram-se de folhas e de maçãs maduras. Então aproximou-se
da árvore e começou a colher as maçãs e a comê-las, o que lhe deu muito
prazer. Nesse momento compreendeu que, assim como na natureza, cada vida
tem seus períodos de inverno e de verão, os quais constituem um Todo no
Grande Plano. Quando Beverly reviveu, ela começou a encarar a vida de
uma maneira completamente nova. Tendo crescido, casou-se com um homem
carinhoso e compreensivo, teve filhos e foi feliz .
Fontes e bibliografia:
MOODY, Raymond A. MD. Life after Life, New York: Bantam Books, 1978;
MOODY, Raymond A. MD. Reflections on Life after Life, New York: Bantam Books, 1978;
MOODY, Raymond A. MD. The Light Beyond, New York: Bantam Books, 1978;
MORSE, Melvin, MD. Closes to the Light, New York: Ivy Books, 1990;
SABOM, Michael, MD. Recollections of Death, New York: Harper & Raw Publishers, 1982;
RING, Kenneth, PhD. Life at Death, New York: QUILL, 1982;
MORSE, Melvin, MD. To Hell and Back, New York: Ivy Books/Ballantine Books, 1990;
ROSE, Hiero Monge Seraphim. The Soul After Death, California: Saint Herman of Alaska Brotherhood/Platina, 1980;
ANKENBERT, J. & WELDON, J. The Facts of Life After Death, Oregon: Harvest House Publishers/Eugene, 1992;
KASTENBAUM, Robert. Is There Life After Death?, New York: Prentice Hall, 1984;
* Este artigo é baseado nos textos do Bispo Alexander Mileant, da Igreja Ortodoxa Russa.