quinta-feira, 29 de agosto de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Pinóquio, Deus e a Incompletude de Gödel
 
O Philosoraptor
 tropeçou em uma questão profundamente filosófica, ligando a matemática à
 compreensão fundamental do Universo, nossa mente – e, para alguns, 
mesmo Deus. Pense bem. Esta forma de gerar um paradoxo fazendo com que uma declaração faça referência a si mesma foi o truque que o matemático Kurt Gödel
 utilizou em 1931 para provar seus Teoremas de Incompletude, entre as 
mais importantes descobertas científicas e filosóficas do século 
passado.
Marcus Dominus cita “a explicação mais curta ao Teorema de Gödel”, de autoria de Raymond Smullyan, e como ela é realmente curta, a traduzo na íntegra:
“Temos uma espécie de máquina que imprime frases em um tipo de linguagem. Em particular, algumas das frases que esta máquina pode (ou não) imprimir podem ser:
—— P*x (que significa que a máquina imprimirá x)
—— NP*x (que significa que a máquina nunca imprimirá x)
—— PR*x (que significa que a máquina imprimirá xx, o R é abreviação de repetição)
—— NPR*x (que significa assim que a máquina nunca imprimirá xx)
Quando a máquina imprime NPR*FUU, isso significa que ela nunca imprimirá FUUFUU. Que é o mesmo que NP*FUUFUU. Até aqui, tudo bem.
Agora, consideremos a frase NPR*NPR*. Esta frase significa que a máquina nunca imprimirá NPR*NPR*.
Pois bem, ou a máquina imprime NPR*NPR*, ou ela nunca imprime NPR*NPR*.
Se a máquina imprimir NPR*NPR*, então está imprimindo uma frase falsa. Mas se a máquina nunca imprimir NPR*NPR*, então NPR*NPR* é uma frase verdadeira que a máquina nunca irá imprimr.
Isso significa que ou a máquina ocasionalmente imprime declarações falsas, ou há declarações verdadeiras que ela nunca imprime. Qualquer máquina que imprime apenas declarações verdadeiras deve falhar em imprimir algumas decalarações verdadeiras; ou, inversamente, qualquer máquina que imprima todas as declarações verdadeiras possíveis também deve imprimir algumas falsas”.
Talvez a explicação mais simples e intuitiva do teorema de Gödel seja
 em verdade o paradoxo de Pinóquio proposto pelo Philosoraptor (ou o 
ainda mais simples “Eu estou mentindo”). O conceito chave é a 
auto-referência, a forma como tanto Pinóquio ou a impressora hipotética 
podem produzir declarações sobre si mesmos que levam a contradições. 
Porém a versão de Smullyan, um pouco mais longa, torna mais fácil 
perceber como se relaciona com a prova matemática de Gödel: a máquina 
capaz de imprimir declarações, incluindo sobre si mesma, é a aritmética,
 grosso modo, a própria matemática.
 
No início do século 20, matemáticos buscavam fundamentar toda a 
matemática sobre uma base clara, definida, livre de contradições. A mais
 bela e pura das ciências. A partir desta fundação sólida, áreas mais 
complexas da matemática e ciência poderiam ser assentadas, de forma que 
ao final toda e qualquer declaração formal pudesse ser demonstrada como 
verdadeira ou falsa. Uma das maiores obras representando este ideal foi o
 Principia Mathematica de Whitehead e Russell, em que a prova de que 1+1=2 só é alcançada na página 379 do primeiro volume – e completada na página 86 do segundo (PDF).
Foi durante este ideal acadêmico com grandes programas e mentes em busca da pureza e clareza do preto no branco
 que Kurt Gödel tropeçou ele mesmo com a prova de que este ideal era 
muito claramente… impossível. Através de sacadas completamente geniais 
envolvendo números de Gödel e diagonalização, os paradoxos lógicos como o de Pinóquio ou do barbeiro – proposto pelo próprio Russell
 – foram traduzidos em aritmética e demonstrados como problemas de todos
 os sistemas de proposições que possam fundamentar a aritmética que 
conhecemos. Kurt Gödel demonstrou que estes paradoxos não são meras 
curiosidades ou pequenas dificuldades que poderiam ser contornadas – 
como acreditava Russell –, e sim ilustrações de limitações fundamentais e
 insolúveis. Ou o sistema de proposições é consistente e incompleto – a 
impressora que imprime apenas verdades, mas não todas as verdades –, ou 
completo e inconsistente – a impressora que imprime todas as verdades, e
 mentiras também.
É desta forma que há na matemática uma série de declarações que não 
podem ser nem provadas nem refutadas. A Incompletude. Comumente estas 
declarações são tomadas como verdadeiras ou falsas com base na utilidade
 – ou sensatez (!) – de considerá-las verdadeiras ou falsas, 
reconhecidamente sem uma prova formal a sustentar tal posição, que se 
torna um novo axioma. Na mais pura e racional das ciências, pode-se 
dizer que há declarações que são tomadas com base em fé.
Muitos, inclusive este autor, talvez não se sintam confortáveis com a
 história contada desta forma, e com estas palavras, mas este autor 
pensa que a questão metafísica deve ser mencionada no mínimo como 
curiosidade histórica. Porque o próprio Gödel considerava a questão 
neste contexto.
 
Podemos imaginar que os teoremas de Gödel demonstram como uma 
máquina, um computador, e ainda mais uma impressora, teriam problemas em
 avançar muito na matemática. Por certo computadores são bons para 
cálculos, mas frente a uma questão que não possa ser provada verdadeira 
ou falsa, um paradoxo, o computador poderia travar, e um robô poderia 
exclamar “it does not compute!” e seu cérebro artificial explodiria, 
como nas obras mais antigas de ficção científica. Gödel levava isto um 
tanto a sério. Para ele, que nós possamos enxergar além destes paradoxos
 indicava que não somos robôs, que estamos acima das máquinas. Seríamos 
compostos de algo mais do que a simples mecânica de 1+1=2.
Esta crença em algo mais foi uma constante na vida de Gödel.
 Uma de suas maiores pretensões era transformar a metafísica em uma 
ciência exata. Talvez não seja assim tanta surpresa que uma das provas 
formais em que trabalhou por décadas era nada menos que a existência de Deus.
De forma muito simplificada, em seu argumento ontológico Gödel buscou formalizar idéias anteriores – de Santo Anselmo e Leibniz – que podem ser resumidas como “Deus é perfeito, logo existe”. Pode parecer tão trivial e inócuo quanto “Eu estou mentindo”, mas se lembre do que Gödel pôde fazer a partir de paradoxos lógicos. Teria ele repetido a façanha com Deus?
Bem, nem você nem eu nos lembramos de Gödel sendo saudado por 
matemáticos, lógicos, filósofos ou mesmo religiosos como “Aquele que 
provou a existência de Deus”. A resposta é não. Seu argumento ontológico
 está longe de ser uma prova sólida e revolucionária como seus Teoremas 
de Incompletude e outras obras publicadas. O próprio Gödel reconhecia 
como seu argumento não era definitivo
, tanto que não o publicou. Só conhecemos melhor seu desenvolvimento das idéias após sua morte, que era, com o perdão do péssimo trocadilho, um trabalho incompleto.
, tanto que não o publicou. Só conhecemos melhor seu desenvolvimento das idéias após sua morte, que era, com o perdão do péssimo trocadilho, um trabalho incompleto.
Mesmo a noção de Kurt Gödel de que nossa capacidade de enxergar além 
de paradoxos lógicos era um toque divino não é muito bem fundamentada. 
Que não somos limitados como computadores aritméticos é evidente, o que 
também deve ser evidente é que é mais comum que pensemos de forma 
ilógica e incoerente. Gödel via nossa capacidade de enxergar uma 
declaração como verdadeira ou falsa como derivada de uma lógica maior, a evidência contudo sugere que nossas certezas podem ser não raro fruto de simples arbitrariedades, desenvolvidas e racionalizadas a posteriori de
 forma inconsciente. Uma moeda justa lançada ao ar também pode decidir 
entre cara ou coroa, sem nenhum sistema axiomático ou conexão com uma 
entidade maior e perfeita.
Ironicamente, a própria fé metafísica de Kurt Gödel pode ser vista 
como uma destas arbitrariedades ultimamente incoerentes. Se ela o levou a
 desenvolver e provar algumas das mais revolucionárias idéias na 
história das idéias, no entanto, está mais do que demonstrado o valor do
 acaso.
 (Sim, é Einstein ao lado de Gödel)
Fonte: http://scienceblogs.com.br
domingo, 18 de agosto de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
"Mártires haviam dado seu sangue para testemunhar a verdade do Evangelho; sábios doutores da Igreja tinham demonstrado sua validade, por meio de deduções convincentes; ascetas haviam abandonado todos os bens terrestres, para viver inteiramente no espírito do Evangelho. Mas em São Francisco, um amante ouviu a mensagem de amor de Cristo Redentor e viveu em seu espírito, por meio do espírito do amor. Os piedosos cronistas do liber confirmatum aduziram fatos e lendas para efetuar o paralelo entre as vidas de São Francisco e Cristo, mas não são os únicos a quem Francisco de Assis impressionou, como o mais semelhante a Cristo de todos os santos. Quem quer que esteja imbuído do verdadeiro espírito da vida e dos ensinamentos de Cristo, visualizará São Francisco ao lado do Nazareno. Pois o que Jesus ensinava e o que sua vida exemplifica aos homens era isto: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e a teu próximo como a ti mesmo. A imitatio Christi de Francisco foi a realização deste mandamento." 
(Fulop Miller, Os Santos que Abalaram o Mundo)
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
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