quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Com Mérito



Título Original: With Honors
Gênero: Drama
Origem/Ano: EUA/1994
Duração: 101 min
Direção: Alek Keshishian


Um diploma significa ter um título que dá direito a um cargo, dignidade e privilégios. Porém, isso não garante que o diplomado seja competente. Em geral, o diplomado possui conhecimento teórico, mas não prático.

No filme Com Mérito, o personagem Monty (Brendan Fraser) é um formando "CDF" da Harvard. É previsível que ele se detenha somente nos livros e na teoria de seu estudo. Após perder todo seu trabalho de conclusão de curso em seu computador, fica com uma única cópia impressa. O medo de perdê-la o faz correr para tirar cópias do trabalho, mas, no caminho, a deixa cair na janela do porão de uma fábrica.

Monty vai ao porão do prédio e descobre que sua monografia havia sido encontrada por Simon (Joe Pesci), um mendigo, e que ele estava usando os papéis para manter uma fogueira acesa. Quando Simon vê que Monty faria qualquer coisa para ter seu trabalho de volta, ele lhe faz uma proposta: para cada coisa que o rapaz lhe desse - comida, coberta, livros, etc -, o andarilho lhe daria em troca uma folha do trabalho. Em meio a esta convivência forçada, começa uma grande amizade.

É interessante como a película retrata a busca dos estudantes, por meio de suas teses, pelo diploma com mérito. Isso garantiria um emprego imediato. Monty estuda "assuntos governamentais" e é o que mais sofre com as alterações realizadas pelo conselheiro, que consegue perceber que, na prática, as teorias nem sempre se aplicam.

Em uma passagem de Com Mérito, um professor, muito arrogante, desafia o mendigo dizendo que a Constituição norte-americana tinha sido mal feita. Simon contra-argumenta dando um show de conceitos e mostrando todos seus conhecimentos sobre a Constituição. O que ficou subentendido é que só porque parecia um "vagabundo" não significava que era ignorante como todos julgavam.

O relacionamento se tornou real e verdadeiro porque ambos ensinaram lições de vida para o outro. Monty ensinou que nem tudo é feito apenas por interesse e Simon ensinou que nem tudo é o que aparenta ser. O mendigo se envolveu com os cinco estudantes de Harvard e a relação mudou a vida de cada um, pois ele apontou pequenos fatos de suas vidas que passavam despercebidos antes.

A principal lição que Monty aprendeu foi de que seu diploma não valeria nada se apenas conjeturasse algo teórico que na prática poderia não funcionar. Sua tese foi reescrita baseada em sua experiência real e prática.

O objetivo final de um curso é obter o diploma e usá-lo como ponto de referência do seu conhecimento. Monty aprendeu que apesar de não ter sido aprovado com mérito escolar, porque este dependia do prazo de entrega, formou-se com o mérito de ter experimentado as diferenças sociais.

Delton Unglaub (http://www.canaldaimprensa.com.br)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Se fode aí, otário.

O brasileiro vive um eterno dilema do prisioneiro

Assim como acontece com diversos outros assuntos, antes de eu resolver estudar Teoria dos Jogos a sério, achava que isso era algo complicado à beça. Os conceitos em si são relativamente simples, mas suas aplicações podem envolver alto grau de complexidade e importância - fazendo com que a sua compreensão seja um diferencial em algumas tomadas de decisão.
The Art of Strategy Depois de passar pelo excelente Thinking Strategically: The Competitive Edge in Business, Politics, and Everyday Life de Avinash Dixit e Barry Nalebuff (dica do meu amigo Pierre), cheguei a The Art of Strategy, dos mesmos autores (na verdade, esse segundo é uma atualização do primeiro - portanto, se for ler, leia o segundo).
Este tijolo de quase 500 páginas apresenta situações bastante corriqueiras na explicação das teorias mais básicas. Mesmo abrangendo conceitos relativamente simples, desde John Nash (retratado por Russel Crowe em Uma Mente Brilhante) o tema já rendeu oito Prêmios Nobel ao estudiosos que exploram suas peculiares ferramentas.
Um dos temas mais recorrentes em Teoria dos Jogos é o famoso Dilema do Prisioneiro. A idéia central de colaboração e conflito foi concebida por Merril Flood e Melvin Dresher no início da década de 1950 e, posteriormente, tomou sua forma mais conhecida através de Albert W. Tucker, resultando no seu enunciado mais difundido:
Dois suspeitos são presos pela polícia pelo mesmo crime, mas as evidências contra ambos são insuficientes para uma condenação. Na tentativa de incriminá-los, oferece-se a ambos o mesmo acordo:
.: Se um dos dois testemunhar contra o outro e este permanecer em silêncio, o alcaguete sai livre enquanto que o suspeito silencioso pega uma pena de dez anos de cadeia.
.: Se ambos falarem, cada um fica cinco anos encarceirado.
.: Se nenhum dos dois abrir a boca, ambos recebem uma pena menor, de seis meses de prisão.
Os dois são mantidos incomunicáveis, sendo que um não saberá a decisão que o outro tomou. Como eles devem se comportar?
Como os prisioneiros devem agir?
Como podemos ver na representação gráfica acima, a melhor opção, pela lógica individual, seria um falar (LIVRE) e o outro ficar quieto (DEZ ANOS). Mas se ambos falarem, os dois ficarão presos por cinco anos.
Assim, a melhor solução conjunta é que nenhum dos dois fale - o que resulta numa pena de seis meses para cada.
Ainda que ficar preso seis meses seja pior do que sair livre, é bem melhor do que ficar cinco anos na cadeia - ou dez.
O grande problema aqui é que para um ficar quieto, ele tem que ter a certeza de que o outro também não falará nada. Do contrário, este arrisca mofar dez anos na prisão. Noutras palavras, a melhor solução conjunta não é a melhor solução individual. Cada um precisa pensar na sua melhor estratégia considerando o que o outro vai fazer - e isso é a base da Teoria dos Jogos.
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Trazendo o Dilema do Prisioneiro para a vida real, podemos encontrá-lo em vários momentos da nossa vida. E é exatamente aí que essa teoria encaixa-se ao nosso dia-a-dia, no tema que venho abordando aqui regularmente: nossa tendência em sempre procurar levar vantagem.
Quando alguém suborna um guarda (ou falsifica uma carteira de estudante), por exemplo, está buscando a melhor alternativa para si, isto é, pagar uma propina a alguém para livrar-se de um mal maior: uma multa e alguns pontos na carteira. O resultado disso, porém, é uma piora para os outros cidadãos, na medida em que o motivo do suborno é algum ato que transgride uma regra social que visa o bem comum.
Safado é sempre o outro
Uma infração de trânsito é algo que prejudica a todos - seja piorando o tráfego ou colocando a vida alheia em risco. O suborno representa, assim, comprar o direito de (provavelmente) prejudicar terceiros.
Agir dessa forma egoísta significa, portanto, dedurar o prisioneiro na cela ao lado. Alguém que, apesar da situação, talvez não tenha culpa alguma. Buscar uma punição branda escapando da merecida prejudica todos os demais que respeitam as mais básicas normas de convívio.
A própria corrupção é um desvio de conduta que se retroalimenta, instituíndo atalhos escusos que se entranham na sociedade. Ainda que ninguém queira passar seis meses na cadeia, cada vez que você faz isso abre um precedente para estar do outro lado na próxima vez e, assim, amargar os seus dez anos de prisão.
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Não sei se fui claro o suficiente na explicação, ou na sua transposição para o mundo real, mas parece-me que o brasileiro sempre prefere dedurar o outro, passar a perna no próximo, varrer seus pequenos delitos para baixo do tapete e que se dane o mundo. Não é preciso ter um prêmio Nobel na estante para perceber isso. Ou é...?

domingo, 26 de dezembro de 2010

Quem foi Chico Mendes?


Caía a noite em Xapuri. Era o dia 22 de dezembro de 1988. Estava calor. Chico Mendes jogava dominó com os policiais que o protegiam. Por volta de 18h 30m, ele se levantou da mesa, pegou uma toalha e disse que ia tomar banho. Como o banheiro ficava no fundo do quintal, ele abriu a porta da cozinha, notou que já estava escuro e pediu uma lanterna. Ouviu-se um tiro.Chico rodou e levou a mão ao peito. Chegou a dar entrada no hospital. Mas já estava morto. Não foi o primeiro militante político a morrer desse modo, mas nunca o assassinato de uma pessoa tão humilde, vivendo em lugar tão remoto, teve tamanha repercussão em nível internacional.
Afinal, quem foi Chico Mendes? Para responder a essa pergunta, relacionamos uma série de datas significativas na história deste homem.
1925- O avô de Chico Mendes, com a mulher e os filhos, entre eles o pai de Chico, Francisco Alves Mendes, então com doze anos, deixa o seu Estado, o Ceará, para ir viver no Acre,
15/12/1944 - Dia em que Chico nasceu, no seringal Porto Rico, próximo de Xapuri.
1962- Conhece Euclides Távora, cearense como seu pai, ex-tenente do Exército, que tomou parte na revolta comunista de 1935, esteve preso na Colônia Penal de Fernando de Noronha, de onde fugiu. Chico tinha 18 anos e era analfabeto. Foi Euclides quem o alfabetizou e lhe deu formação política.
1969- Casa-se com Maria Eunice Feitosa, mãe de sua primeira filha, Ângela.
1971- Separa-se de Maria Eunice, abandona o seringal e passa a lecionar para adultos, numa escola do governo, em Xapuri.
1973- Dom Moacyr Grechi, fundador e ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra, é sagrado bispo de Rio Branco. Teve grande influência na trajetória de Chico. A Igreja Católica cultivou a liderança e um combativo sentido de objetividade entre os isolados moradores da floresta.
1974- João Maia, representante da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura ( CONTAG), chega ao Acre para estimular a criação de sindicatos. Em 1975, relacionou-se com Chico Mendes e o ajudou a fundar o sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia.
1976-O sindicalista Wilson Pinheiro, que seria assassinado em 1980, organiza grupos de 300 ou mais pessoas para resistirem, sem armas de fogo, ao desmatamento promovido por pecuaristas.Essa resistência, nem sempre vitoriosa, mas sempre incômoda para os derrubadores, recebeu o nome de “ empate” (derivado de empatar, embaraçar).Após o assassinato de Pinheiro, Chico assumiu a liderança dos “ empates”.
1977- Chico é eleito vereador em Xapuri.
1978- Conhece Mary Allegretti, antropóloga paranaense, que contribuiu para projetá-lo mundialmente e lhe conseguiu algumas bolsas junto a entidades internacionais.
1983- Casa-se com Ilzamar Gadelha Bezerra, que conhecia desde menina e que fora alfabetizada por ele.Tiveram dois filhos: Elenira e Sandino.
1986- Torna-se amigo do cineasta inglês Adrian Cowel que, através de inúmeros documentários, lhe deu uma audiência internacional. Nesse mesmo ano, conheceu o agrônomo e ecologista José Lutzenberger, que o auxiliou com algumas doações.
1987- Chico consegue que uma comissão da ONU visite o Acre para observar a luta dos seringueiros contra o desmatamento.Em março desse mesmo ano, vai a Miami participar de uma reunião do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), onde se manifestou contra o patrocínio de projetos não ecológicos. Em seguida, vai a Washington e expõe numa Comissão do Senado dos Estados Unidos o seu pensamento sobre as Reservas Extrativistas.
Principal bandeira de Chico Mendes, as Reservas Extrativistas são áreas pertencentes à  União com usufruto dos seringueiros e outros trabalhadores da floresta que se organizam em cooperativas e associações, não havendo títulos de propriedade.As Reservas dão sustento aos milhares de famílias que trabalham nelas, quer sejam seringueiros, castanheiros, pescadores, trabalhadores do babaçu, da juta, do cacau, do açaí e de tantas outras riquezas que podem ser exploradas sem destruir a natureza.
            Deve ser ressaltado que essas Reservas Extrativistas foram idealizadas para dar sustentação aos povos que já vivem na floresta, e jamais como uma política de ocupação do solo.
Chico Mendes tinha consciência de que a defesa da floresta não significava luta pela terra, mas, pela preservação dos recursos naturais. Na Amazônia, não é a terra que precisa ser dividida; a floresta é que não pode ser privatizada.

José Lisboa Mendes Moreira
Publicado no Recanto das Letras em 06/04/2007
Código do texto: T439925

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