É muito importante pensar. Parece uma afirmação meio óbvia, mas se
você reparar algumas pessoas, políticos em especial, notará a absurda
quantidade de pessoas que não pensam. Chega a ser ridícula de tão óbvia a
importância de pensar enquanto joga poker. Eu já escrevi algumas vezes
sobre jogar no piloto automático, quando você não necessariamente está
jogando de forma horrível, mas toma decisões sem pensar. Todo jogador
cai nesse erro às vezes, mas quando deveríamos supostamente estar
jogando nosso “poker nota A”, a coisa é diferente.
Quanto mais atento o oponente for, mais importante se torna pensar no jogo.
A diferença entre um jogador competente e um top é a habilidade de se
ajustar constantemente de acordo com cada oponente e situação. Há muito
fatores dentro disto, mas tudo começa com pensar ativamente sobre a mão
em que você está envolvido.
Eu joguei uma mão neste verão, em Vegas, que ilustra bem essa idéia –
E dessa vez não era eu no piloto automático. Eu estava no cash game de
mid-stakes e ele é jogado de forma parecida aos low-stakes online:
Muitos ranges previsíveis e jogo pós flop fraco. Um jovem maníaco sentou
à mesa e mudou tudo.
Rapidamente ele levou alguns potes e mudou sua frequência de jogo de
dois terços para quase todas as mãos. De inicio eu não estava seguro
sobre o quão bom ele era, mas depois de alguns showdowns ficou claro pra
mim que ele não estava pensando muito e apenas atirando a torto e a
direito. O problema era que eu estava sentado dois assentos à direita
dele, então era muito difícil para eu fazer algo sem uma boa mão. Então,
o jogo teve uma pausa e o jogador imediatamente saiu da mesa. Com ele
praticamente ainda sentado, eu disse “Dealer, eu vou ficar naquele
assento”.
Parece bobeira mudar de assentos para ter melhor posição sobre
alguém, mas desde que não haja uma dança das cadeiras eu acho que é
justo mudar de lugar. Faz parte da tática do jogo ao vivo. Enquanto eu
sentava, ele disse “Hmm, mudando de lugar para tentar me pegar não é?”,
eu respondi “Nah! Só não to conseguindo nenhuma carta ali”. Espero que
meu sotaque e meus shorts de turista tenham convencido ele.
Eu não tive de esperar muito para tirar algumas fichas dele.
Ele abriu no cut off e eu recebi As 8s. Three bet era uma opção, já que
eu estava à frente do range dele, mas estávamos relativamente deeps, e
eu queria que ele continuasse com a mão fraca, além disso, não tinha
total certeza se iria para a guerra com A-8 suited.
O flop veio K-8-4 rainbow, bom para mim que quase sempre terei a
melhor mão. Ele apostou e eu paguei. O turn foi um 9 offsuited, ele
disparou novamente. Em uma situação normal eu tenho uma decisão a tomar.
Entretanto, aqui eu pensei “Estou pagando todas as streets, e se ele
conseguisse algo bom?”. Eu paguei e o river é traz uma dama. Ele
apostou, eu paguei. Se ele tiver uma Q-5 eu ficarei triste, mas ele
acenou e disse “você venceu”, e muckou a mão. Infelizmente eu tive de
mostrar minha mão para levar o pote, e ele pode ver que eu estava
pagando ele de forma light. Mas o melhor, é que pouco depois ele perdeu
outro pote, e seu instinto maníaco se tornou em tilt.
O ponto sobre a mão não é meu jogo ou minha experiência em ter um
jogador mega agressivo na mesa, mas sim, a falta de pensamento do vilão.
Devemos lembrar que ele sabia que eu estava de olho nele, ele até
comentou que eu estava tentando pegá-lo. Era claro que eu estava ciente
da imagem dele: Ele sabia que estava aumentando 80% das mãos, disparando
várias vezes nas três streets e levando uma tonelada de fichas. Ele
sabia que tinha mudado de assento para ter ele em posição, e mesmo assim
disparou cegamente.
Porém, eu mesmo errei ao pagar o flop e o turn muito rápido, possivelmente avisando que ele estava batido. Ele
estava focado em apenas um pensamento: Disparar, disparar, disparar e
não iria recuar por nada. Se ele tivesse parado e pensado, ele poderia
ter salvo algumas fichas.