terça-feira, 11 de outubro de 2011
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
O garoto de meio milhão de jogadas
Essas são as possibilidades que
o norueguês Magnus Carlsen,
o novo número 1 do ranking, enxerga diante
do tabuleiro.
Aos 19 anos, ele é o grande nome de uma geração
de enxadristas criada com os recursos dos computadores
Alexandre Salvador
Pal
Hansen |
APRENDIZADO
VIRTUAL Carlsen, grande mestre desde os 13 anos, só treina com softwares: ele não se lembra se tem em casa um tabuleiro convencional |
Em 2004, com apenas
13 anos, Carlsen derrotou o antigo campeão mundial, o russo Anatoly Karpov,
e empatou com o também russo Garry Kasparov, então o número
1 do ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide). No mesmo
ano, recebeu o título de grande mestre, a mais alta qualificação
de um enxadrista, equivalente à faixa preta nas artes marciais. No ano
passado, Carlsen venceu dois torneios cruciais, um na China e outro na Inglaterra,
e a recompensa veio no início deste mês. A Fide o colocou na primeira
posição no ranking global dos jogadores de xadrez. "Desde a
aposentadoria de Kasparov não surgia um jogador de primeiro time que fosse
carismático, que atraísse a simpatia do público, como Carlsen",
disse a VEJA o americano William Hall, diretor executivo da federação
americana de xadrez.
Magnus Carlsen é o grande nome
de uma geração de enxadristas que guarda diferenças significativas
com os campeões do passado. Boa parte da popularidade desfrutada pelo xadrez
nos anos 60 e 70 se devia à exploração ideológica
do jogo promovida pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante
a Guerra Fria. Os soviéticos foram os maiores campeões de xadrez
no século XX, mas sua hegemonia era constantemente ameaçada pelos
americanos, e as disputas se tornaram instrumentos de marketing na polarização
entre capitalismo e comunismo. No século passado, apenas um americano,
Bobby Fischer, conquistou o título de campeão mundial de xadrez,
em 1972, derrotando o russo Boris Spassky. A partida entre ambos, que durou um
mês e meio e foi acompanhada atentamente em todos os quadrantes do planeta,
ganhou o apelido grandioso de "o jogo do século".
Pal
Hansen e Fotos: Chester Fox e Najlah
Feanny/Corbis/Latinstock |
O
JOGO DO SÉCULO... O soviético Boris Spassky e o americano Bobby Fischer (acima) na partida que deu o título mundial ao segundo, em 1972: o xadrez era usado como instrumento ideológico na Guerra Fria. Abaixo, o russo Garry Kasparov no jogo que perdeu para o computador Deep Blue, em 1997: hoje, há programas capazes de imitar o estilo dos campeões |
... E O HOMEM CONTRA O COMPUTADOR |
Isso significa que, para derrotarem os computadores,
os jogadores têm de ser mais inteligentes? Não necessariamente. Disse
a VEJA o psicólogo cognitivo Fernand Gobet, da Universidade Brunel, em
Londres, autor de pesquisas que relacionam o xadrez com a inteligência de
seus praticantes: "Hoje está provado que o QI não é
fator decisivo para se tornar um grande jogador de xadrez. O mais importante é
começar a jogar o mais cedo possível, ter motivação
para aprender sempre mais sobre o jogo e treinar muito. Só assim se chega
a guardar na memória meio milhão de jogadas". Essa foi a trajetória
percorrida por Magnus Carlsen.
Com pôquer, Brasil cria entidade de esportes intelectuais e quer Olimpíada em 2016
Contra o senso comum de que qualquer esporte implica ação física para
ser tratado como tal, uma corrente de modalidades voltadas ao esforço
mental luta para ser abraçada pela família olímpica. Com xadrez e pôquer
como carros chefes, o Brasil acaba de criar a Associação Brasileira de
Esportes Intelectuais, alinhada com movimento internacional do gênero, e
espera receber os Jogos Mundiais deste segmento simultaneamente à
Olímpiada de 2016 no Rio de Janeiro.
A Abrespi é filiada a IMSA, sigla em inglês para Associação
Internacional de Esportes Intelectuais, com sede em Lausanne, na Suíça.
Internacionalmente, esta união dos intelectuais já existe desde 2005,
com o nascimento da entidade que reúne praticantes de xadrez, dama,
bridge e go (veja a tabela abaixo), modalidades que reúnem 400
federações nacionais e mais de um bilhão de jogadores. O movimento tenta
caminhar alinhado com o COI para, gradualmente, figurar no rol de
esportes com a chancela olímpica.
"Queremos nos afastar desta imagem de 'patinho feio' que está atrelada a
nós", diz Darcy Lima, Grande Mestre Internacional de xadrez e
presidente da nova entidade.
"Estávamos num limbo antes desse movimento internacional. Existe uma
imagem muito comum, que liga o esporte à ação, ao movimento. Na verdade
são vários os fatores que constituem um esporte: regras claras, um
campeonato mundial, países filiados. Mas no imaginário popular o esporte
está ligado à atividade física. A gente sofre com preconceito. Mas
ultimamente estes esportes vêm sendo usados como ferramenta pedagógica,
de inclusão social. São baratos e formadores de caráter. E assim o
preconceito vem diminuindo", acrescenta o dirigente.
Os primeiros Jogos Mundiais de esportes intelectuais aconteceram em
2008 em Pequim, paralelamente à Olimpíada do mesmo ano, com participação
de equipes de 140 países e reunindo um total de 2.736 atletas durante
duas semanas. A segunda edição acontecerá em Londres no ano que vem e,
em 2016, a expectativa é que o evento desembarque no Brasil.
Assim, a criação da entidade no Brasil atende uma demanda internacional
do movimento, que espera aproveitar a onda de eventos de grande porte
no país para se fazer presente com seus Jogos Intelectuais na mesma
época do Rio-2016.
"Existe uma grande possibilidade, mais de 90% de em 2016 [os Jogos]
serem no Rio de Janeiro. Estamos alinhados com o movimento olímpico. Não
podemos usar o nome Olimpíadas, mas esperamos em breve estar nesse
grupo de três grandes eventos, os Jogos de Verão, os Jogos de Inverno e
os Jogos Intelectuais", afirma Darcy Lima.
A popularidade mundial do pôquer é uma cartada do movimento para
batalhar por atenção, mesmo com o esporte apresentando atualmente apenas
status de membro observador da entidade internacional.
"Existe uma grande quantidade de dinheiro envolvida neste universo. Nos
Estados Unidos, o pôquer tem a terceira maior inserção de mídia do
esporte na TV, na frente do hóquei no gelo", argumenta o dirigente.
Além da ideia padrão a respeito das modalidades intelectuais, de quem
associa esportes apenas à atividade física, o movimento ainda abraça a
causa específica do pôquer, que lida com um outro tipo de preconceito.
Agora vinculada a práticas como xadrez, a modalidade luta para se
distanciar da imagem de jogo de azar e das apostas em dinheiro nos
cassinos do mundo. Na entidade dos intelectuais, o esporte é disputado
em sua versão 'duplicate', que, na teoria, minimiza o efeito da sorte em resultados, argumentam seus defensores.
"É um esporte que sofre um preconceito a mais, porque vem de um tipo de
jogo anterior, o jogo de azar. Mas está provado que o azar conta muito
pouco. Cerca de dois terços das mãos jogadas são resolvidas sem mostrar
as cartas, na base da estratégia. É um esporte recente, ainda associado
ao jogo do cassino, por dinheiro. Mas existe azar como existe no
futebol. Como naquela vez em que o cara cobrou o pênalti e a bola bateu
nas costas do goleiro Carlos antes de entrar. Também é azar", comenta
Darcy Lima, em menção a um célebre lance da seleção brasileira na Copa
de 1986.
No Brasil, além das metas esportivas, a entidade que reúne as
modalidades intelectuais também atuará em outra frente. A Abrespi deseja
prosperar entre os jovens convencendo as esferas públicas do poder dos
jogos em questão empregado como ferramenta educacional e de inclusão
social.
Em seus primeiros passos a Abrespi trabalha com o auxílio da Brunoro
Sport Business, conhecida empresa nacional de gestão e marketing ligada
ao segmento esportivo.
Assinar:
Postagens (Atom)