Essas são as possibilidades que
o norueguês Magnus Carlsen,
o novo número 1 do ranking, enxerga diante
do tabuleiro.
Aos 19 anos, ele é o grande nome de uma geração
de enxadristas criada com os recursos dos computadores

Alexandre Salvador
Pal
Hansen![]() |
APRENDIZADO
VIRTUAL Carlsen, grande mestre desde os 13 anos, só treina com softwares: ele não se lembra se tem em casa um tabuleiro convencional |
Em 2004, com apenas
13 anos, Carlsen derrotou o antigo campeão mundial, o russo Anatoly Karpov,
e empatou com o também russo Garry Kasparov, então o número
1 do ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide). No mesmo
ano, recebeu o título de grande mestre, a mais alta qualificação
de um enxadrista, equivalente à faixa preta nas artes marciais. No ano
passado, Carlsen venceu dois torneios cruciais, um na China e outro na Inglaterra,
e a recompensa veio no início deste mês. A Fide o colocou na primeira
posição no ranking global dos jogadores de xadrez. "Desde a
aposentadoria de Kasparov não surgia um jogador de primeiro time que fosse
carismático, que atraísse a simpatia do público, como Carlsen",
disse a VEJA o americano William Hall, diretor executivo da federação
americana de xadrez.
Magnus Carlsen é o grande nome
de uma geração de enxadristas que guarda diferenças significativas
com os campeões do passado. Boa parte da popularidade desfrutada pelo xadrez
nos anos 60 e 70 se devia à exploração ideológica
do jogo promovida pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante
a Guerra Fria. Os soviéticos foram os maiores campeões de xadrez
no século XX, mas sua hegemonia era constantemente ameaçada pelos
americanos, e as disputas se tornaram instrumentos de marketing na polarização
entre capitalismo e comunismo. No século passado, apenas um americano,
Bobby Fischer, conquistou o título de campeão mundial de xadrez,
em 1972, derrotando o russo Boris Spassky. A partida entre ambos, que durou um
mês e meio e foi acompanhada atentamente em todos os quadrantes do planeta,
ganhou o apelido grandioso de "o jogo do século".
Pal
Hansen e Fotos: Chester Fox e Najlah
Feanny/Corbis/Latinstock![]() |
O
JOGO DO SÉCULO... O soviético Boris Spassky e o americano Bobby Fischer (acima) na partida que deu o título mundial ao segundo, em 1972: o xadrez era usado como instrumento ideológico na Guerra Fria. Abaixo, o russo Garry Kasparov no jogo que perdeu para o computador Deep Blue, em 1997: hoje, há programas capazes de imitar o estilo dos campeões |
... E O HOMEM CONTRA O COMPUTADOR ![]() |
Isso significa que, para derrotarem os computadores,
os jogadores têm de ser mais inteligentes? Não necessariamente. Disse
a VEJA o psicólogo cognitivo Fernand Gobet, da Universidade Brunel, em
Londres, autor de pesquisas que relacionam o xadrez com a inteligência de
seus praticantes: "Hoje está provado que o QI não é
fator decisivo para se tornar um grande jogador de xadrez. O mais importante é
começar a jogar o mais cedo possível, ter motivação
para aprender sempre mais sobre o jogo e treinar muito. Só assim se chega
a guardar na memória meio milhão de jogadas". Essa foi a trajetória
percorrida por Magnus Carlsen.
Nenhum comentário:
Postar um comentário