Se há alguma coisa que diferencia a humanidade dos animais, é que os humanos esperam em filas. Para fazer um depósito no banco, para pagar as mercadorias no armazém, até para votar — todos nós aprendemos a fazer fila, um atrás do outro. E aprendemos, mesmo que não gostemos disso, que é melhor sorrir e suportar.
No entanto, tempo é dinheiro, e tanto as pessoas como os negócios podem sofrer na medida em que as filas se tornam cada vez maiores, diz o matemático Prof. Refael Hassin, da Universidade de Tel Aviv. Ele empregou a Teoria dos Jogos para estudar o tempo de espera nas filas e compreender as conseqüências econômicas. Suas descobertas — muitas das quais contrariam totalmente o “senso comum” — podem também virar a indústria dos serviços de cabeça para baixo, porque ajudam os negócios a ficarem mais rentáveis e tornar o mundo um lugar mais agradável para todos viverem.
Os resultados da sua pesquisa foram recentemente publicados em Management Science.
Um “Espresso” enquanto você espera
Os negócios podem implementar sistemas para diminuir os tempos de espera e diminuir o número de consumidores frustrados que vão embora sem fazer uma compra. O Prof. Hassin nota que existem muitas soluções que as companhias poderiam adotar para melhorar o serviço ao consumidor. Uma taxa de entrada para uma fila mais rápida é uma das opções.
“Eu não sugiro que as companhias saiam contratando mais caixas, assim que virem as filas crescendo”, diz ele. “Mas com alguma análise básica os picos de tempo de espera nas filas podem ser estabelecidos e os negociantes podem se assegurar que os fregueses continuem felizes durante a espera, oferecendo serviços e distrações, tais como TV ou, quem sabe, cappuccinos”.
Mas algumas vezes as próprias filas são o problema, acredita o Prof. Hassin. Seu estudo sugere que os tempos de espera são afetados por um grande número de variáveis aleatórias e que as pessoas que se amontoam em um balcão podem ser servidas com mais eficiência do que pessoas que esperam na fila. Algumas vezes a desordem cria sua própria ordem.
Em uma sorveteria, por exemplo, um consumidor que se esprema no balcão, vai esperar por menos tempo do que se o mesmo número de fregueses esperassem pacientemente em uma fila. Isso significa que mais sorvetes serão servidos e mais dinheiro entrará no caixa. “Se houver 10 pessoas em uma sorveteria, na média você vai ser atendido depois da quinta, se não esperar em uma fila organizada”, diz o Prof. Hassin.
Prof. Hassin prossegue explicando: “É claro que eu poderia ser atendido primeiro, segundo ou mesmo em último lugar. Mas, na média, as estatísticas se baseiam nas estratégias de tomada de decisões humanas: se uma pessoa está decidindo se vai ou não entrar em uma loja e vê muitas pessoas já lá dentro, a maioria preferirá um atendimento desorganizado — porque existe a oportunidade de ser atendido antes do que se estivesse esperando pacientemente em uma fila”.
Para a Democracia, é necessário “esperar a sua vez”?
Tanto os fregueses como os comerciantes podem aprender com a pesquisa do Prof. Hassin. Embora pareça, intuitivamente, que a eqüidade seja observada quando as pessoas esperam pacientemente em filas, até que chegue sua vez, o Prof. Hassin diz que, quando se trata de fazer fila, a democracia é mais respeitada quando se fura a fila.
“As pessoas nas filas tendem a pensar somente em si próprias e ignorar o impacto que podem causar sobre as demais”, diz o Prof. Hassin. “Se eu cheguei na fila primeiro e você chegou depois, você vai esperar mais por minha causa. Os fregueses freqüentemente são egoístas e ignoram os efeitos que seu comportamento tem sobre os demais”. Por isso, em alguns casos, é melhor gerenciar uma fila de uma maneira desorganizada e não-democrática, atender na ordem inversa da chegada, ou esconder informações sobre o tamanho da fila a fregueses em potencial, explica ele.
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A pesquisa do Prof. Hassin’s foi inspirada na ausência de um sistema de filas organizadas na sociedade Israelita. Suas descobertas estão disponíveis em “To Queue or Not to Queue” de autoria dos Professores Hassin e Moshe Haviv, no website do Prof. Hassin’s em http://www.math.tau.ac.il/~hassin/.
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Observações do tradutor:
Eu não poderia concordar mais com o Prof. Hassim! Basta se lembrar dos “profissionais de fila” nos postos de atendimento médico no Brasil… E lembrar quando foi a última vez (eu garanto que não foi há muito tempo…) em que você se viu em uma situação como a minha:
Eu precisava fazer um depósito mixuruca de R$ 50,00, diretamente na conta de meu filho (tinha que ser na boca do caixa, porque a agência bancária dele é de Macaé). Entrei no banco, apenas um caixa funcionando, mas apenas duas pessoas na fila, também. Uma hora de espera! As duas pessoas que estavam na minha frente eram dois “enrolados” que queriam porque queriam ser atendidos, mas não sabiam onde tinham guardado os documentos, se a conta que desejavam mexer era corrente ou de poupança, etc. Depois de esperar por uma hora, eu fui atendido em exatos 25 segundos! (Eu estava com o dinheiro e o número da conta na mão…) Que diferença faria para as tais duas pessoas me deixarem passar sua frente? Nenhuma!… Apenas “elas chegaram antes”…
Aliás, quem não “mofou” em uma fila, atrás de um contínuo de repartição pública ou office-boy com trocentos depósitos, cheques, pedidos de talão de cheques, extratos e outras mumunhas que eles levam naquelas malditas pastinhas?… Que se dane se “eles estão trabalhando”!… Os outros também têm mais o que fazer!
Outra coisa que não é novidade: quando o Prof. Hassim fala em “Uma taxa de entrada para uma fila mais rápida ”, ele só está falando da velha conhecida dos brasileiros: a “taxa de urgência”… Funciona em qualquer cartório, repartição pública e concessionária de serviços públicos. “Criar dificuldades para vender facilidades” sempre foi o lema de qualquer burocracia…
Mas você prefere um país “organizado” e “civilizado”?… Sem problemas!… Entre aí na fila…
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Este é o Show de Pierre Berton: Bruce Lee – O super-astro mandarim. Produção de 1892, gravado em 9 de dezembro de 1971. Em Hong Kong.
(Não legendado)
Pierre Berton: Bruce Lee enfrenta um real dilema. Ele está a beira do estrelato nos Estados Unidos, com os seriados projetados no horizonte, mas ele tem alcançado há pouco um super estrelato como um ator de filmes aqui em Hong Kong. Assim como a bruxa, ele escolhe: O Leste ou o Oeste? É o tipo de problema que a maioria dos atores de filmes dariam boas-vindas.
Este é o Show de Pierre Berton. O programa que vem pra você das principais capitais do mundo. Essa edição vem a você de Hong Kong. E o convidado de Pierre é o homem que ensinou karatê, judô e boxe chinês para James Garner, Steve McQueen, Lee Marvin e James Coburn. O super-astro mandarim mais novo. Conhecido no oeste por suas aparições em Batman, O Besouro Verde, Ironside e Longstreet. Seu nome é Bruce Lee, e ele nem mesmo fala mandarim. Mas aqui é o Pierre.
Pierre Berton: Bem como você pode atuar em filmes mandarins se você nem mesmo
fala mandarim?
Bruce Lee: Bem em primeiro lugar, eu só falo cantonês.
Pierre: Sim.
Bruce Lee: Por isso, quero dizer, que existe uma grande diferença no que diz respeito à pronúncia e coisas do caso.
Pierre: Então alguma outra voz é usada, certo?
Bruce Lee: Definitivamente, definitivamente!
Pierre: Assim que você acaba de dizer as palavras… não há aquele som estranho quando você vai ao cinema, especialmente em Hong Kong, sua cidade natal, e você te vê com a voz de alguém?
Bruce Lee: Bem, realmente não, entende, porque a maioria dos filmes mandarins feitos aqui, são dublados de qualquer maneira.
Pierre: Eles são dublados de qualquer maneira?
Bruce Lee: De qualquer maneira. Quero dizer neste aspecto, eles filmam sem som. Assim não faz diferença alguma.
Pierre: Seus lábios nunca fazem as palavras certas totalmente, fazem?
Bruce Lee: Sim, bem isso é onde a dificuldade mente, entende. Quero dizer em relação ao… cantonês tem um modo diferente de dizer coisas… quero dizer diferente do mandarim. Assim eu tenho que achar, como, algo semelhante a isso e manter uma boa sensação de partida através disso. (Em meus filmes). Algo, sabe, adaptando a forma do mandarim. Soa complicado?
Pierre: Como nos velhos dias silenciosos. Mas eu junto isso nos filmes feitos aqui
o diálogo é bem formal de qualquer maneira.
Bruce Lee: Sim, concordo contigo. Quero dizer, me entenda, um filme é movimento. Quero dizer, você tem que manter o diálogo no mínimo.
Pierre: Assistiu muitos filmes mandarins antes de começar atuar em seu primeiro?
Bruce Lee: Sim.
Pierre: O que acha deles, quando você os assiste?
Bruce Lee: Quanto à qualidade, devo admitir que não está totalmente no mais alto nível. Porém, estão crescendo e subindo mais e mais… e atingirão esse nível de qualidade.
Pierre: Dizem que o segredo de seu sucesso naquele filme, “O Dragão Chinês” e o levou ao estrelato na Ásia, foi você quem fez as cenas de luta.
Bruce Lee: Uh-huh.
Pierre: Como perito em diversas artes marciais na China, o que você achou das lutas que viu nos filmes que você estudou antes de se tornar um astro?
Bruce Lee: Bem, quero dizer, definitivamente no princípio, eu não tive intenção alguma que tudo, que eu estava praticando, e o que eu ainda estou praticando agora conduziria a isso. Mas arte marcial tem mesmo um, significado muito profundo em minha vida, porque, como ator, como um artista marcial, como um ser humano, tudo isso eu tenho aprendido da arte marcial.
Pierre: Talvez para nosso público que não conhece o que significa, você poderia explicar exatamente sobre o que quer dizer arte marcial?
Bruce Lee: Certo. Arte marcial inclui todas as artes de combate, como Karatê…
Pierre: Judô.
Bruce Lee: … ou Karate, Judô, Kung-fu chinês, ou Boxe chinês, seja lá como chamá-lo. Tudo isso, entende, como, Aikidô, Karatê coreano, e por aí vai. Mas é uma forma combativa de luta. Quero dizer, algumas se tornaram esportes, mas outras ainda não. Usam, por exemplo, chutes na virilha, golpes com os dedos nos olhos, coisas desse tipo.
Pierre: Nenhuma maravilha você tem êxito nisso! Os filmes chineses estão de qualquer maneira cheios desse tipo de ação… eles precisaram de um sujeito como você! (Os dois ríem).
Bruce Lee: Violência, cara!
Pierre: Assim você não teve que usar um dublê quando você mudou prum papel num filme aqui.
Bruce Lee: Não.
Pierre: Você fez tudo?
Bruce Lee: Certo.
Pierre: Você pode quebrar cinco ou seis pedaços de madeira com sua mão ou pé?
Bruce Lee: Provavelmente eu quebraria minha mão e pé! (Os dois ríem).
Pierre: Conte-me um pouco… você montou uma escola em Hollywood não foi?
Bruce Lee: Sim.
Pierre: Para pessoas como James Garner, Steve McQueen e os outros.
Bruce Lee: Sim.
Pierre: Por que eles queriam aprender arte marcial chinesa? Por causa de um papel num filme?
Bruce Lee: Realmente não. A maioria deles, entende, para mim, pelo menos do modo que eu ensino, todo tipo de conhecimento significa, no final, autoconhecimento. Assim, quando uma pessoa me procura pedindo pra ensiná-la, não como se defender, ou como acabar com alguém, pelo contrário, ela quer aprender a se expressar por meio de movimento, seja raiva, seja determinação ou outra coisa qualquer. Em outras palavras, o que eu estou dizendo é que, ele está me pagando para lhe mostrar, em forma combativa, a arte de expressar o corpo humano.
Pierre: De certo modo, o qual está atuando não é?
Bruce Lee: Bem…
Pierre: ou seria uma ferramenta útil para um ator ter entretanto…
Bruce Lee: Poderia soar muito filosófico, mas é não atuar atuando ou atuando sem atuar… se você…
Pierre: Você me perdeu!
Bruce Lee: Eu tenho huh? Assim o que eu estou dizendo, de fato, entende, é uma combinação de ambos. Quero dizer aqui há o instinto natural e aqui há controle. Você tem que combinar os dois em harmonia. Não… Se você exceder um extremo, será extremamente não científico. Se você tender para o outro extremo, você se torna, de repente, um homem mecânico… deixa de ser um ser humano. Assim é uma combinação próspera de ambos, assim, não se trata de ser puramente natural ou inatural. O ideal é a naturalidade não natural, ou a inaturalidade natural.
Pierre: Yin e Yang é?
Bruce Lee: Você está certo cara, é isso mesmo.
Pierre: Um de seus alunos, James Coburn, atuou em um filme chamado “Our Man Flint”, no qual ele usou Karatê. Foi o que ele aprendeu com você?
Bruce Lee: Ele aprendeu depois do filme. Não…
Pierre: Assim ele aprendeu depois que ele atuou em “Our Man Flint.”
Bruce Lee: Certo. Certo. De fato, entende eu não ensino, você sabe, Karatê, porque eu não acredito mais em estilos. Quero dizer que eu não acredito que haja algo como, o modo chinês de lutar ou o modo japonês de lutar… ou algum modo de lutar, porque a menos que o ser humano tenha três braços e quatro pernas,
aí teríamos uma forma diferente de lutar. Mas, basicamente, nós só temos duas mãos e dois pés. E os estilos tendem a separar os homens, porque eles têm suas próprias doutrinas e a doutrina se tornou a verdade evangélica que você não pode mudar. Mas, se você não tiver estilos, se apenas disser, “Aqui estou eu, um ser humano, como eu posso me expressar, total e completamente?”… desse jeito, você não criará um estilo porque estilo é uma cristalização. Aquele jeito é um processo de crescimento contínuo.
Pierre: Você fala sobre boxe chinês… como é o procedimento, diga, nosso tipo de boxear? (Ocidental).
Bruce Lee: Bem, primeiro nós usamos os pés.
Pierre: Uh-huh isso é um começo.
Bruce Lee: E então nós usamos o cotovelo.
Pierre: Você usa o dedo polegar também?
Bruce Lee: Você fala assim cara, nós usamos isso!
Pierre: Você usa tudo?
Bruce Lee: Você tem, entende, porque isso é a expressão do corpo humano. Quero dizer, de tudo, e não só a mão! Quando você está falando sobre combate, bem, se isso fosse um esporte… Então estaríamos falando sobre qualquer outra coisa, com regulamentos, e regras… mas se você está falando sobre luta, como é o caso…
Pierre: Não há regras…
Bruce Lee: … sem regras, bem, então, é melhor você treinar toda parte do seu corpo! E quando você soca… Vou me inclinar um pouco para frente espero não estar atrapalhando os ângulos da câmera. Eu quero dizer que você tem que pôr o quadril inteiro nisto, e soltar o golpe! (Lee soca duas vezes, muito rápido) E adquire toda sua energia de lá e faz disso uma arma.
Pierre: Não quero me cruzar contigo em qualquer noite escura, já lhe falo isso agora mesmo! Você veio a mim com uma bela rapidez ali! Qual é a diferença entre boxe chinês e isso que nós vemos esses caras jovens fazendo às oito em ponto todas as manhãs nos jardins e parques chamado “shadowboxing”. O que eles estão sempre fazendo?
Bruce Lee: Bem, de fato, entende, isso faz parte do boxe chinês. Há muitas escolas, escolas diferentes…
Pierre: Todo o mundo aqui parece ir assim (se movimenta com um movimiento de tai-chi) todo o tempo.
Bruce Lee: Bem, isso é bom. Quero dizer, eu estou muito contente, eu estou muito contente em ver que pelo menos alguém cuida de seu próprio corpo, certo?
Pierre: Sim.
Bruce Lee: Quero dizer que isso é um bom sinal. Bem, isso é uma lenta forma de exercício que é chamada Tai-Chi-Chuan… Estou falando mandarim agora mesmo… em cantonês, “Kai-di-kune”, e é mais que um exercício pros mais velhos, não tanto para o jovem.
Pierre: Me dê uma demonstração; me mostre, você pode fazer um pouco disso?
Bruce Lee: (Sentado faz uma demonstração do Tai-chi por meio de uns movimentos de mão…). Quero dizer, mão-sábia, isso é muito lento e você empurra isso pra fora, mas o tempo todo você está mantendo a continuidade; dobrando, estirando, tudo isso. Você apenas mantém isso movendo.
Pierre: Se parece um dançarino de balé aí…
Bruce Lee: É. Quero dizer que pra eles a idéia é “água corrente nunca perde frescor.” Assim você simplesmente tem que “continuar fluindo”.
Pierre: De todos seus alunos, famosos, James Garner, Steve McQueen, Lee Marvin, James Coburn, Roman Polanski, Quem era o melhor? Que se adaptou melhor a esta forma oriental de exercício e defesa?
Bruce Lee: Bem, dependendo… como um lutador, Steve… Steve McQueen… agora, ele é bom nesse departamento porque, aquele filho da mãe adquiriu a dureza nele…
Pierre: Eu vejo isso na tela…
Bruce Lee: Quero dizer, ele diria, “certo baby, aqui estou eu, cara”, você sabe, e ele faria isso! Agora James Coburn é um homem amante da paz…
Pierre: Eu o conheci.
Bruce Lee: Certo? Quero dizer, você o conheceu…
Pierre: Sim.
Bruce Lee: Quero dizer que ele é, realmente agradável, super jovial, e tudo isso…
Pierre: Sim, ele é!
Bruce Lee: Agora, ele aprecia a parte filosófica disso. Então, sua compreensão sobre isso é mais
profunda que a do Steve. Assim é realmente difícil dizer, entende o que estou dizendo agora?
Pierre: Entendo…
Bruce Lee: Quero dizer que é diferente, dependendo do que entende disso…
Pierre: É interessante, nós não fazemos em nosso mundo, e não tem desde a época que os gregos fizeram, filosofia e arte combinada com esporte. Mas é muito claro que a atitude oriental é isso, as três são facetas da mesma coisa.
Bruce Lee: Cara, escute. Entende, realmente… Para mim, no fim das contas, arte marcial significa expressar-se honestamente. Agora, isso é muito difícil de fazer. Quero dizer que pra mim, é fácil fazer um show, ser convencido me encher de arrogância, me achar o máximo, e tudo isso. Ou fazer todo tipo de coisas falsas, você entende o que eu quero dizer? Enganar. Ou eu posso te mostrar
alguns movimentos realmente elegantes, mas, se expressar honestamente, sem mentir a si mesmo… me expressar com sinceridade, isso, meu amigo, é muito difícil de fazer. E você tem que treinar. Você tem que manter seus reflexos pra quando você precisar… eles estarem lá! Quando quiser se mover, você se move e
quando se mover, estar determinado a se mover. Levando uma polegada, nada mais que isso! Se eu quiser socar, eu vou socar cara, e eu vou mesmo! Então, é este o tipo de coisa que você
precisa colocar em prática. Se tornar uno com… Você pensa… (estala seus dedos) …. é isso.
Pierre: Isso é muito anti-ocidental, essa atitude. Eu quero lhe perguntar por seu filme e carreira de TV, mas primeiro nós faremos um intervalo e então estaremos de volta com Bruce Lee. Eu tenho falado com Bruce Lee, principalmente sobre as artes marciais chinesas, que incluem coisas como boxe chinês, Karatê e Judô que foi o que ele ensinou quando estava em Hollywood depois que ele deixou a Universidade de Washington, onde ele estudou, de todas as coisas, filosofia, se pode acreditar nisso. Mas ele fez mas isso, talvez você entenda por que os dois vão juntos do começo a metade deste programa e talvez você pode entender como ele tem entrado em filmes, ele conheceu muitos atores, mas me falaram que você arrumou emprego em “O Besouro Verde”, onde você atuou como Kato, o chofer, principalmente porque você era o único sujeito chinês que pôde pronunciar o nome do protagonista, “Britt Reid”!
Bruce Lee: Eu quis dizer isso como uma piada, claro! E é um grande nome, cara! Quero dizer toda vez que eu dizia isso naquele momento, estava super-consciente! Realmente quero dizer, agora, isso é outra
coisa interessante, huh? Digamos que você aprende a falar chinês…
Pierre: Sim?
Bruce Lee: Não é difícil de aprender e falar as palavras. A coisa complicada, a coisa difícil, está atrás do que é o sentido no qual tráz a expressão e os sentimentos através dessas palavras. Como, quando cheguei a primeira vez nos Estados Unidos e olhei para um caucasiano, e eu realmente não sabia se ele estava posto
sobre mim ou se ele estava realmente bravo? Porque nós temos modos diferentes de reagir a isso… essas são as coisas difíceis, entende?
Pierre: É quase como se você descobrisse uma raça estranha onde um sorriso não significasse o que significa pra nós. Na realidade, um sorriso nem sempre significa o mesmo, né?
Bruce Lee: Claro que não.
Pierre: Me fale sobre a grande fratura quando você atuou em Longstreet…
Bruce Lee: Ahh, isso é tudo.
Pierre: Eu tenho que falar pro nosso público que Bruce Lee teve uma pequena parte, ou um papel de apoio nas séries de Longstreet e isso teve um enorme efeito na audiência. O que foi isso?
Bruce Lee: Bem, entenda, o título desse episódio particularmente em Longstreet se chama “O Caminho do Punho Interceptando.” Agora creio que o ingrediente próspero nisso foi que eu estava sendo Bruce Lee.
Pierre: Você mesmo.
Bruce Lee: Eu mesmo, certo. E fiz aquela parte, justamente me expressando, como eu disse,
“me expressando honestamente”, naquele momento. E eu, por causa disso, trouxe, sabe, mencionando favoravelmente em, como, a New York Times que diz, como, “O cara chinês que, incidentemente, saiu bastante convincente e ganhou uns seriados” e assim por diante.
Pierre: Você pode se lembrar das linhas chave por Stirling Silliphant? As linhas principais?
Bruce Lee: Ele é um de meus alunos, você sabia disso?
Pierre: Ele também foi?
Bruce Lee: Sim…
Pierre: Todo mundo seu aluno! Mas você leu, havia algumas das linhas principais que expressavam sua filosofia. Eu não sei se você lembra…
Bruce Lee: Oh eu me lembro, eu disse…
Pierre: Como é? Ouçamos…
Bruce Lee: É isso mesmo, ok?
Pierre: Você está falando com Longstreet interpretado por James Franciscus…
Bruce Lee: Eu disse, “Esvazie sua mente, seja amorfo, sem forma, como a água. Agora você coloca a água num copo, ela se torna o copo. Você coloca a água numa garrafa, ela se torna uma garrafa. Você coloca numa chaleira, ela se torna uma chaleira. Agora a água pode fluir, ou pode destruir… Seja água, meu amigo”… Assim, entende?
Pierre: Sim, entendo, eu adquiro a idéia. Adquiro o poder através disso…
Bruce Lee: Aham….
Pierre: Assim, agora, duas coisas aconteceram: Primeiro há uma chance satisfatória de você ganhar
um seriado nos EUA chamado “O Guerreiro”, não é? Onde você usa, as artes marciais em uma
produção ocidental?
Bruce Lee: Bem isso era a idéia original. Agora Paramount, você sabe que eu fiz Longstreet pra Paramount, e a Paramount quer que eu esteja em um seriado. Por outro lado, a Warner Brothers
quer que eu esteja em outro. Mas ambos, eu acho, que querem que eu esteja em um tipo modernizado de algo e pensam que a idéia ocidental está fora! Considero que eu quero…
Pierre: Você quer fazer a ocidental!
Bruce Lee: Eu quero porque, entende, quero dizer, como outro pode justificar tudo isso socando e chutando e violência, exceto no período do oeste? Quero dizer, hoje em dia, quero dizer que
você não passa na rua, chutando pessoas e socando pessoas… (finge alcançar uma arma em sua jaqueta), porque se você faz isso… (saca sua pistola imaginária e aperta o gatilho) Pow! Isso é tudo. Quero dizer, que não me importa o quanto “bom” você é.
Pierre: Sim, uma pistóla, mas isso também é a verdade dos dramas chineses, que são principalmente dramas de fantasia. Eles são todos cheios de sangue derramado mais que aqui!
Bruce Lee: Oh você quer dizer aqui?
Pierre: Sim.
Bruce Lee: Bem, infelizmente, entende, eu espero que o filme que eu faço, explique o porquê da violência cometida… seja certa ou errada, o que for mas, infelizmente, a maioria dos filmes aqui, são feitos principalmente pela violência. Sabe o que quero dizer? Sabe, caras lutando durante 30 minutos, sendo esfaqueado 50 vezes! (atua como se fosse esfaqueado e golpeado, seu micrófone cái fora de sua jaqueta).
Pierre: Fico encantado, aqui, deixe-me lhe devolver seu microfone… Fico encantado que volte…
Bruce Lee: Eu sou um artista marcial…
Pierre: Você voltou para Hong Kong à beira do sucesso em Hollywood… e cheio disso… e de repente, em virtude de um filme, você se torna um super-astro. Todo mundo te conhece, você teve de mudar seu número de telefone. Você é tumultuado nas ruas. Agora o que você vai fazer? Você vai poder morar em ambos os mundos? Você vai ser um super-astro aqui ou um nos EUA… ou ambos?
Bruce Lee: Bem, deixe-me dizer isso. Em primeiro lugar, eu não gosto da palavra “super-astro”… e lhe direi por quê… porque a palavra “astro”, cara, é uma ilusão. Como ator, você precisa olhar pra dentro de si mesmo, cara. Eu ficaria muito contente se alguém me dissesse: (bate seu punho na outra mão) “Aí cara, você é um super-ator!” Isso é bem melhor do que “super-astro. Então, eu…
Pierre: Sim, mas você tem que admitir que você é um super-astro. Você não vai… você não vai… se você vai me dar a verdade!
Bruce Lee: Eu sou agora… eu estou dizendo isso honestamente, ok? Sim, eu tenho tido muito sucesso, ok?
Pierre: Sim…
Bruce Lee: Mas creio que a palavra “astro” é… Quero dizer que não olho pra mim como um astro. Realmente não. Quero dizer acredite, cara, quando digo isso. Quero dizer não estou dizendo isso porque…
Pierre: O que você vai fazer? Voltemos à pergunta.
Bruce Lee: (risos) Ok.
Pierre: Você vai ficar em Hong Kong e ser famoso, ou você vai para os Estados Unidos e ser famoso, ou você vai tentar comer seu bolo e ter isso também?
Bruce Lee: Eu vou fazer ambos porque, entende, eu já decidi que, nos Estados Unidos, creio que algo sobre o oriental, quero dizer o verdadeiro oriental, deveria ser mostrado.
Pierre: Hollywood não tem mostrado.
Bruce Lee: É verdade, cara. É sempre o rabo-de-porco, saltando ao redor, “chop-chop”, você sabe? Com os olhos puxados e tudo aquilo. E eu acho que é isso mesmo, muito defasado.
Pierre: É isso retifica que o primeiro trabalho que você teria, estava sendo emitido como o “Filho Número
Um de Charlie Chan”?
Bruce Lee: Sim, “Filho Número Um”. (Os dois ríem).
Pierre: Eles nunca fizeram o filme?
Bruce Lee: Não, eles iam fazer como um novo James Bond chinês ou coisa do tipo. Agora que, sabe, “o velho homem Chan está morto, Charlie está morto, e o filho dele está continuando”.
Pierre: Oh entendo. Mas eles não fizeram isso.
Bruce Lee: Não, veio o Batman entende. E então tudo começou a entrar naquele tipo de coisa.
Pierre: Como em “O Besouro Verde”?
Bruce Lee: Sim.
Pierre: No qual você estava…
Bruce Lee: A propósito, eu fiz um trabalho realmente terrível nisso, eu tenho que dizer.
Pierre: Verdade? Não gostou de você nisso?
Bruce Lee: Oh, não.
Pierre: Eu não o vi. Porém, deixe-me lhe perguntar, sobre os problemas que você enfrenta como um herói chinês num seriado americano. As pessoas já te disseram: “bem nós não sabemos como o público vai aceitar um não-americano?”
Bruce Lee: Bem, essa questão foi levantada. Sim, há essa discussão. E é provavelmente o
motivo que “O Guerreiro” não saia.
Pierre: Entendo.
Bruce Lee: Entende? Porque, infelizmente, essas coisas existem neste mundo, entende. Como, sei lá, em certas partes do país, certo? Eles acham que, comercialmente, é um risco. E eu não os culpo… eu não os culpo. Quero dizer, da mesma maneira, como em Hong Kong, se um estrangeiro viesse e se tornasse um astro, se eu fosse o homem do dinheiro, eu provavelmente teria minha própria preocupação se ele seria ou não aceito. Mas tudo bem, porque, se você se expressa honestamente, não importa, entende? Porque você vai fazer isso!
Pierre: Como sobre o outro lado da moeda? É possível que você, quero dizer que você é razoavelmente anca, e razoavelmente americanizado, você é muito ocidental pro nosso público oriental, você não acha?
Bruce Lee: Eu… oh cara! De forma alguma… Eu fui criticado por isso!
Pierre: Você tem, né?
Bruce Lee: Oh, definitivamente. Bem, deixe-me dizer isso: Quando faço filme chinês eu dou o meu
melhor para não ser tão… americano como, sabe, quanto tive de ser nos últimos 12 anos nos EUA. Mas, quando volto aos EUA, parece ser ao contrário, sabe o que quero dizer?
Pierre: Você é muito exótico, né?
Bruce Lee: Sim, cara. Quero dizer que eles estão tentando conseguir que eu faça muitas coisas que são realmente por eu ser exótico. Entende o que estou tentando dizer?
Pierre: Oh seguramente.
Bruce Lee: Assim, isso é realmente, quero dizer…
Pierre: Quando você mora em ambos os mundos, traz seus problemas como também suas vantagens, e você tem ambos. Tempo para ir ao comercial. Estaremos de volta em instantes, com Bruce Lee. Me deixe lhe perguntar se a mudança da atitude por parte da administração Nixon pra China ajudou suas chances de estrelar em um seriado americano?
Bruce Lee: (risos) Bem, em primeiro lugar, isso aconteceu antes disso. Mas creio que coisas de chinês serão bastante interessantes durante os próximos anos… Não quero dizer que estou politicamente inclinado pra qualquer coisa, sabe, mas…
Pierre: Entendo, mas só estou querendo saber…
Bruce Lee: Mas quero dizer, que uma vez a abertura da China, sabe, quero dizer, que, trará mais compreensão! Mas são coisas que, ei, como diferente, sabe? E talvez no contraste de comparação alguma coisa nova poderia crescer. Então, assim quero dizer que é um período muito rico estando dentro. Quero dizer como, se eu nasci, digamos 40 anos atrás e se eu pensei em minha mente e disse, “menino, eu vou estrelar em um filme, ou estrelar em um seriado na América”, bem… isso poderia ser um sonho vago.
Mas penso, agora mesmo, pode ser, cara.
Pierre: Você ainda pensa em você como um chinês ou sempre pensa em você como um norte-americano?
Bruce Lee: Sabe o que quero pensar de mim mesmo? Como um ser humano. Porque, quero dizer, não quero soar como pergunta a Confúcio, digo… (brincando), mas sob o céu, sob o firmamento,
cara, há apenas uma família. E é exatamente assim, acontece que as pessoas são diferentes.
Pierre: Ok, temos que ir, obrigado Bruce Lee por ter vindo aqui, e obrigado por assistir…
Bruce Lee: Obrigado, Pierre, obrigado.
Você tem visto Bruce Lee, no Show de Pierre Berton. Um programa de meia hora de conversação, opinião e debate.
"Hoje, eu entro em qualquer mesa que formar. Quanto mais caro, melhor."
Quando um jogo de pôquer tem apostas altas, ele é chamado de high stakes (“cacifes elevados”). Quando elas são maiores ainda, dizem que é uma partida de nosebleed stakes. Em português simples e objetivo, os “cacifes que fazem o nariz sangrar”.
E, no Brasil, ninguém sangra mais narizes do que o paulista Gabriel Goffi. Aos 21 anos, ele viaja regularmente pelo país para disputar os jogos mais caros encontrados em solo nacional. “Já rodei o Brasil jogando”, diz. “Dou atendimento em todos os lugares!”, brinca.
A maior parte dos parceiros de Goffi são empresários e executivos. “Você precisa estar confortável com os valores”, diz. “Se você transparecer que está com medo, eles vão te atacar a toda hora.”
Os pingos, normalmente, flutuam entre R$25/R$50 e R$100/R$200. O jogo em questão não é o popular Texas Hold’em, e sim o Omaha. Nele, você tem quatro cartas, contra duas do Hold’em. As possibilidades, portanto, são muito maiores. “Comecei no Hold’em, mas com o tempo os ‘tiozões’ enjoaram dele. Eles queriam mais ação e diversão, coisa que o Omaha proporciona bem. Como não quero jogar só com regulares, migrei junto para o Omaha.”
Goffi é considerado, no meio do pôquer, o melhor jogador de cash game ao vivo do Brasil. Sua fama de ganhador deu origem à brincadeira Goffi Facts (uma variação do Chuck Norris Facts, uma série de factóides satíricos que exaltam a força do ator americano). Uma das piadas diz que “Goffi perdeu a carteira em Brasília e, no mesmo lugar, fundaram o Banco Central”.
“Hoje, entro em qualquer mesa que formar”, afirma ele. “Quanto mais caro, melhor.” Leia abaixo a entrevista completa de Gabriel Goffi a Alfa, em que ele fala sobre blefes de 47 mil reais, ser banido de um clube de pôquer por ganhar dinheiro demais e a maior virtude que um jogador de high stakes pode ter (“balls”).
Revista Alfa – Onde você costuma jogar pôquer?
Gabriel Goffi – Num jogo privado em Alphaville, formado por amigos. É uma turma fixa de nove pessoas. São sete empresários e dois jogadores profissionais, eu e mais um colega.
Alfa – Com que frequência vocês jogam?
Goffi – Duas vezes por semana, de terça e quinta-feira. O jogo começa às 21h e acaba no máximo às 4h, normalmente. Tem um parceiro que trabalha cedo, então não dá para esticar até muito tarde.
Alfa – E quais são os valores apostados?
Goffi – Depende do dia, mas geralmente fazemos R$100/R$200. É escuro no botão, não tem blinds. O botão faz 100 reais e alguém faz escuro de 200 reais em qualquer posição da mesa, com repique. Quando o jogo tá muito forte, tem até 400 reais no escuro.
Alfa – O cacife inicial é de quanto?
Goffi – Começa com 5 mil reais de frente. São 25 big blinds, ou seja, é só um tiro as primeiras mãos. Quem acerta qualquer draw [pedida] decente já vai para o all in. Daí começa o jogo com reload [recompra] para todo lado. É quando os stacks [cacifes] passam a ser 100 big blinds efetivos.
Alfa – Vocês jogam Texas Hold’em?
Goffi – Não, é PLO, Pot-Limit Omaha. Como a maioria dos jogadores, eu comecei no Texas Hold’em, mas com o tempo os “tiozões” enjoaram do jogo de duas cartas, queriam mais ação e mais diversão, coisa que o Omaha proporciona bem. E como não quero jogar só com regulares, migrei junto para o Omaha. Realmente, é muito mais divertido. Mas, também, muito mais perigoso. É pedida para tudo quanto é lado.
Alfa – Dá para fazer quanto numa noite?
Goffi – Prefiro não comentar, até porque a variância do Omaha é muito grande. Então não tem como dizer uma média. Mas não são valores astronômicos, como muita gente pensa, apesar do jogo ser R$100/R$200.
Alfa – Não é muita pressão para você, que tem 21 anos, jogar com empresários numa mesa de valores tão altos?
Goffi – Para entrar num jogo caro, você precisa estar confortável com os valores. Ou seja, aquelas fichas não podem significar de verdade o valor que elas possuem. Se você transparecer para eles que está com medo, eles vão te atacar a toda hora. Eles querem ver exatamente isso, o medo na sua cara. Querem tirar você da zona de conforto. Então eu meio que me adaptei a isso. Hoje em dia, não sinto nenhuma pressão.
Alfa – Tem algum outro lugar onde você joga regularmente?
Goffi – Tem sim, um clube nos Jardins. O jogo lá é mais barato, é R$50/R$100. Tento revezar, sempre vou atrás de jogo bom. Se o jogo estiver forte e com bastante stack,ele já me pega. Não gosto de jogos passivos, estou atrás de confusão! [risos]
Alfa – Qual é o seu estilo de jogo nessas mesas caras?
Goffi – No jogo ao vivo, sua imagem é a coisa mais importante. Você precisa saber exatamente o que o seu adversário acha de você naquele momento. Se ele pensa que você é bem tight [seguro] ou bem agressivo. Dependendo da sua conclusão, você pode explorar essa sua imagem. No primeiro caso, se alguém me acha tight, vou regularmente blefar nele. No segundo caso, irei jogar quase que sempre por valor. Mas meu estilo de jogo, no geral, é bem agressivo. Faço o que os “tiozões” gostam. Escuro, mais e mais. Como eu disse antes, estou atrás de confusão!
Alfa – Você poderia contar alguma mão marcante?
Goffi – Teve uma mão marcante que aconteceu há pouco tempo. Foi no mês passado. Eu tinha ido ao banheiro e quando, estava voltando, a dealer [crupiê] estava entregando as cartas. O botão tinha feito 100 reais. Eu falei de longe: “Coloca 200 no escuro para mim”. Aí a ação começa no botão e eu sou o último a falar na mão.
Todos pagaram e o penúltimo a falar fez mil reais. Eu tinha 10-8-8-2 off [sem naipes combinados], uma mão horrível. Resolvi pagar, porque dando esse call, eu faria todos pagarem também. Então, eu jogaria um pote de oito mil reais apenas para acertar a trinca de oitos, o famoso set value [valor da trinca].
O flop veio 8-3-3, um sonho! Todo mundo check [dar mesa]. Chega em mim e faço quatro mil no pote de oito, para induzir blefes mesmo. O jogador “X….” no big blind faz tudo 12 mil. Os stack efetivos eram de 47 mil reais. Eu dou flat call apenas. No turn bate um dez e ele diz a famosa frase: “Quanto cabe?” E joga o seu all in. Eu dou snap call [pagar sem hesitar]. Ele, branco com a situação, fala: “O quê?” Eu digo “paguei”. Ele responde: “É, eu tava blefando. Achei que se você tivesse ás e três largaria”. Aí entra aquela história da pressão que eles querem te colocar. Realmente, seria bem difícil pagar essa mão com ás e três.
Alfa – Como você investe o dinheiro que ganha no pôquer?
Goffi – Meus pais são do interior de São Paulo. Um negócio que tem crescido muito por lá é a compra e venda de imóveis. Aliás, não só lá, mas como no Brasil todo. Então, estou investindo com eles nisso. Pretendo também, num futuro próximo, abrir alguma franquia de cosméticos com meu grande amigo Robigol.
Alfa – Você gosta de gastar dinheiro com roupas caras, relógios e etc?
Goffi – Gosto de qualidade. Então, consequentemente, gosto de gastar dinheiro com roupas, relógios, viagens e restaurantes caros. Inclusive, isso é uma das coisas que me fazem ter vontade de grindar [jogar e ganhar com regularidade] bastante. Vejo como uma recompensa por tudo, não como um exagero.
Alfa – Como você lida com as derrotas?
Goffi – Sou muito competitivo. Como todo mundo que é assim, não gosto de perder. Sei perder, é claro. Mas sempre tiro alguma lição das derrotas, sempre penso muito na minha sessão caso ela tenha sido negativa. O que eu podia ter feito diferente, ou ter evitado, etc.
Alfa – Você é supersticioso?
Goffi – Não sei se esse exemplo se encaixa como superstição, mas tento me manter positivo o dia inteiro. Acredito muito nisso. Gosto de ficar perto de pessoas positivas e odeio ouvir palavras negativas. Tento sempre fazer o bem e desejar o bem para todo mundo, porque acredito muito que as coisas acontecem pela pessoa que você é. Pelo seu caráter. Posso ganhar uma fortuna no dia, mas vou chegar ao meu prédio e tratar o meu porteiro da mesma forma que tratei o dono do Habibs. Outro exemplo são os sinais. Se no dia de jogo caro, onde eu tento ficar o mais relaxado possível, começa a ter coisas que me estressam, eu já me sinto mal e tento não jogar.
Alfa – Você joga na internet, também?
Goffi – Meu foco sempre foi o jogo ao vivo, mas com o online indo paralelamente. Ultimamente, tenho focado bastante na internet. Jogo apenas heads-up [mano a mano] de $2/$4 até $5/$10 no Full Tilt, no Poker Stars e no Ongame.
Queria muito virar high stakes online ($25/$50 ou mais) também, mas o caminho é muito mais difícil. Precisa ter muita disciplina, controle emocional e, óbvio, bankroll [cacife acumulado]. Os jogos estão cada dia mais difíceis, o que consequentemente aumenta a variância do jogo. Isso no Omaha é bizarro.
Voltei a estudar bastante pôquer. Pot-Limit Omaha, mais especificamente. Vamos ver se, até o fim do ano que vem, consigo me estabilizar no $10/$20 e $25/$50.
Alfa – Você teve alguns bons resultados em torneios no Brasil. Ficou em 2º numa etapa do BSOP e em 9º no Full Tilt 750k. Você gosta, também, de jogar torneios?
Goffi – Sim, mas o que me interessa mesmo nos torneios é o cash game caro que ele gera paralelamente. No BSOP e em torneios grandes, sempre vou por causa disso. O cash caro é muito bom e quem joga tem muitas regalias. Por exemplo, hotel e alimentação. Tipo cassino mesmo. Os parceiros são tratados como celebridades.
Alfa – Isso acontece com frequencia?
Goffi – Já rodei o Brasil jogando. Todo mês, pelo menos, tem jogo em algum lugar do país. Tento comparecer a todos. Dou atendimento em todos os lugares! [risos]
Alfa – Então você não viaja para jogar torneio, mas o cash caro?
Goffi – No BSOP de Goiânia, que fiquei em segundo, me pagaram tudo. Eu fui para jogar cash caro. Em todo evento é assim. Se estou lá, fui para jogar cash caro, não o torneio. Até acabo entrando no torneio, só que vou para o estouro logo no começo. Jogo com consciência, mas se tiver uma pedida de flush nuts [máxima], não largo nem se um cara apontar a arma na minha cabeça! [risos] Eu quero ficar grande logo no começo, jogo para frente. Se for eliminado, tudo bem, vou para o cash. Se fico grande, começo a jogar com mais segurança. Não faço mais tanto move [movimento] desesperado.
Alfa – As apostas são muito altas?
Goffi – O cash do BSOP é caro, mas não comparado ao de Alphaville. Creio que ele seja o mais caro do brasil.
Alfa – Como você começou no pôquer ao vivo em São Paulo?
Goffi – Eu morei um ano em Londres. Por lá eu só jogava online, nada muito significante, e conheci o jogo nos cassinos. Não tinha bankroll suficiente para grindar os jogos em libras regularmente, mas fiquei fascinado. Quando vim para São Paulo, aos 18 anos, eu só jogava pôquer online. Vim para fazer cursinho, para entrar na faculdade de Relações Internacionais. Num dia de grind online, perdi 10 buy-ins e tiltei [perder a controle]. Fiquei saturado da internet e fui pesquisar o jogo live de São Paulo. Encontrei uma casa nos Jardins onde, mais tarde, eu seria banido. No meu primeiro torneio live fiquei em primeiro, ganhei 1,8 mil reais. No dia seguinte fui jogar cash R$1/R$2 e ganhei mais mil. No outro dia, mais 1,2 mil reais. Aí pensei “é, me engataram no jogo”. Então comecei a focar no pôquer ao vivo.
Alfa – Você disse que foi banido do clube, é isso mesmo?
Goffi – Depois de grindar por um tempo no R$1/R$2, fiz o move up para o R$ 5/R$5. Entrei numa good run [boa fase] em que ganhei praticamente todos os dias do mês, o que deixava os parceiros incomodados, porque a maioria perdia regularmente. Eu não era o parceiro que sou hoje, jogava só mãos boas. Era durinho no jogo, não me preocupava muito com minha imagem, faltava malandragem. Com isso, chegou um dia em que os parceiros falaram para o dono do jogo: “Se o Goffi jogar, ninguém mais joga”. O dono da casa me adorava, mas disse que se eu jogasse não formava a R$5/R$5. Então migrei para o H2 e foi onde tudo aconteceu.
Alfa – Me conta um pouco sobre a sua mudança do R$5/R$5 para os high stakes.
Goffi – Uma das partes mais importantes do pôquer é o move up, quando você sobe de limites. Esse é um momento em que a sorte influencia. Conheço muita gente que tem potencial, mas que quando foi migrar para o jogo caro, tomou uma pancada. Pessoas que jogavam R$5/R$10 e ganhavam 5 mil reais num dia e perdiam 2 mil no outro. Só que, no R$25/R$50, a pancada é de 30 mil reais! Muita gente perdeu uma nota nesse começo. Aí teve o emocional afetado e disse que não ia mais jogar o cash caro. Parou. Comigo, não. Logo na primeira sessão, ganhei 20 mil reais. Na segunda, mais 30 mil. Aí pronto, explodi no jogo. Teve esse lance de sorte no começo. Porque a variância existe, eu podia ter tomado uma pancada. Hoje, entro em qualquer mesa que formar. Quando mais caro, melhor. O problema é que não tem muito parceiro para esses jogos caros.
Alfa – Como os seus pais e a sua namorada lidam com isso tudo?
Goffi – Tudo na vida é resultado. O pôquer principalmente. Não adianta eu te falar que sou ótimo jogador, mas não conseguir ganhar nada. No começo, a minha namorada e os meus pais diziam que tudo bem eu jogar pôquer, mas que precisava fazer faculdade. Aí os resultados começaram a aparecer. Hoje em dia, meus pais têm o maior orgulho de mim, me idolatram! Minha namorada também. Tem um grande orgulho.
Alfa – Sua namorada, então, não se importa que você fique viajando pelo país para jogar?
Goffi – Já tivemos brigas por causa dessas viagens. Eu gostaria de levá-la junto, mas ela faz cursinho. Tem aula até de sábado. Sabemos que é uma fase passageira e que ano que vem ela já vai poder me acompanhar. Mas nos damos muito bem, ela é muito sossegada. O segredo do relacionamento é saber conciliar as coisas. Se fiquei focado no pôquer no final de semana, dia de semana tento manter o foco mais nela.
Alfa – Qual é a maior virtude que um jogador de cash caro pode ter?
Goffi – Jogador de cash caro geralmente tem muito peito. Nesse jogo você precisa ter balls, saber blefar, pagar. Então, a qualidade mais importante de um profissional é basicamente essa. E também ser marqueteiro na mesa. Saber usar exatamente a sua imagem para determinadas as suas ações.