quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Vida após a morte: pesquisa científica e perspectiva cristã


"Eu estava deitado na sala da UTI do hospital infantil de Seattle, Estado de Washington, EUA, quando, de repente, senti-me em pé, movendo-me com incrível velocidade através de um espaço escuro. Eu não via paredes em minha volta, no entanto, parecia ser algo como um túnel. Não sentia vento, porém, percebia que me deslocava com incrível velocidade. Apesar de não entender o porque e para onde eu estava voando, sentia que no final do meu vôo algo muito importante me esperava e eu queria chegar ao meu destino o mais rápido possível. Finalmente, eu me via em um lugar repleto de luz brilhante e então percebi que havia alguém perto de mim. Era alguém alto, com longos cabelos dourados; vestia roupa branca amarrada no meio com um cinto. Ele não dizia nada, mas eu não tinha medo pois, uma enorme paz e amor emanavam dele. Se não era Cristo, devia ser um de seus anjos".

Este é um dos relatos típicos, reunidos pelo médico pediatra americano Dr. Melvin Morse e publicados no livro "Closer to the Light" ('Mais Próximo da Luz'). Depois disso, o garoto Dean, de 16 anos, cujos rins pararam de funcionar, sentiu que retornou ao seu corpo e voltou a si. Tais impressões, tão curtas porém muito fortes, deixaram uma marca profunda na alma de Dean. A partir delas, ele se tornou um jovem religioso, o que influenciou positivamente a sua vida e a sua família.

Dr. Morse observou o primeiro caso de morte temporária no ano de 1982, quando conseguiu fazer reviver uma menina de 9 anos chamada Catarina, que se afogara numa piscina pública. O relato da menina teve um profundo efeito no médico, que até então era cético em relação a todo fenômeno espiritual: uma impressão tão forte que ele resolveu dedicar sua vida ao estudo científico do que acontece com uma pessoa logo após a morte. No caso de Catarina, Dr. Morse admirou-se particularmente com a descrição detalhada que a menina deu de tudo o que sucedeu na hora em que se encontrava morta clinicamente, tanto no hospital, como em sua casa. Dr. Morse se convenceu da veracidade de todas as observações de Catarina.

Após ter sido transferido para o Hospital Infantil Ortopédico de Seattle, e mais tarde, ao Centro de Medicina de Seatle, Dr. Morse começou a estudar sistematicamente a questão da morte. Ele questionava muitas crianças, às quais tiveram a experiência da morte clínica; comparava e documentava os relatos. Além disso, ele continuava a manter contato com seus jovens pacientes e observava o seu desenvolvimento intelectual e espiritual a medida que eles cresciam. No seu livro, Dr. Morse afirma que todas as crianças que ele conheceu, que sobreviveram à morte temporária, ao crescer, tornaram-se jovens sérios e religiosos, moralmente mais "puros" que outros jovens que não passaram por tal experiência. Todos eles aceitaram o ocorrido como um sinal superior de que é preciso viver para o Bem.

Relatos semelhantes sobre a vida após a morte, até há pouco tempo, eram publicados apenas na área da literatura religiosa. As revistas populares e livros científicos via de regra evitavam esses temas. A maior parte dos médicos e psiquiatras mantinham uma postura negativa em relação a essas manifestações. Apenas de duas décadas para cá, representantes da medicina começaram a se interessar seriamente sobre a questão da existência da alma.

Entre as pesquisas sérias e sistemáticas sobre a questão da morte, inclui-se a realizada pelo Dr. Michael Sabom. Professor de medicina na universidade de Emory e médico no hospital para veteranos da cidade de Atlanta, publicou um livro com dados precisos e documentados, bem como análises aprofundadas a respeito do assunto. Também é valiosa a pesquisa sistemática do psiquiatra Kenneth Ring, publicada no livro "Life at Death" ('Vida na Morte'). Dr. Ring montou um questionário para ser respondido pelos sobreviventes à morte clínica. Nomes de outros médicos que se envolveram nessa questão estão citados na bibliografia ao final do texto. Muitos deles eram céticos que mudaram sua perspectiva ao analisar muitos e sempre novos casos confirmando a realidade da continuidade da consciência (alma) após a morte física.


O que a alma vê no "outro mundo"...

A morte não é como muitos a imaginam. Tudo indica que, na hora da morte, teremos que ver e passar por muitas coisas para as quais muitos não estão preparados. Reunindo os relatos das pessoas que sobreviveram à morte clínica, emerge o seguinte quadro do que a alma vê e experimenta, ao separar-se do corpo: quando a morte se processa e a pessoa atinge o limite de desfalecimento, normalmente ela pode ouvir quando o médico a declara morta. Em seguida, ela vê um "sósia" seu, - seu próprio corpo inerte, - deitado abaixo dela, e muitas vezes até os médicos e enfermeiros tentando revivê-lo. Essas imagens inesperadas podem provocar um grande choque na pessoa: ela se vê "do lado de fora”. E aí verifica que suas capacidades habituais (ver, ouvir, pensar, sentir, etc.) continuam a funcionar normalmente, só que agora independentes do corpo físico. Flutuando no ar, acima dos outros que se encontram no ambiente, a pessoa instintivamente tenta comunicar-se, dizer algo ou tocar alguém. Mas percebe que está isolada dos outros e que ninguém reage aos seus apelos. Além disso, ela fica admirada ao sentir alívio, serenidade e/ou alegria indescritíveis. Não há mais aquela parte do "eu" que sofria, exigia algo e queixava-se sempre de tudo. Sentindo tal alívio, a alma normalmente não quer voltar ao corpo.

Na maioria dos casos documentados da morte temporária, a alma, após observar por alguns momentos o que se passa ao redor, volta ao seu corpo físico, e nesse momento, o conhecimento do outro mundo é interrompido. Mas, às vezes, a alma dirige-se adiante para o mundo espiritual. Nesses casos, alguns descrevem essa sensação como o movimento dentro de uma espécie de túnel. Após isso, as almas de algumas pessoas vão para um mundo de grande beleza, onde às vezes encontram parentes já falecidos. Outras vão parar numa região de luz e encontram-se com um "ser de luz", do qual emanam grande amor e compreensão. Alguns afirmam que é Jesus Cristo, outros que é um anjo. Mas todos concordam que se trata de alguém repleto de bondade e compaixão. Alguns, porém, vão parar em lugares tenebrosos e, voltando, descrevem terem visto seres cruéis e repugnantes. Ás vezes, o encontro com o misterioso ser luminoso é acompanhado de uma "revisão" da vida, quando a pessoa começa a relembrar o seu passado e faz uma avaliação moral dos seus atos. Após isto, alguns vêem algo semelhante a uma “divisão” ou fronteira. Eles sentem que, uma vez ultrapassada esta fronteira, não poderão voltar ao mundo físico.

Mas nem todos os que sobreviveram à morte temporária passaram por todas essas fases. Uma grande porcentagem das pessoas que voltaram à vida não se lembra de nada. As etapas citadas são colocadas em ordem de sua frequência relativa, começando com as que ocorrem mais frequentemente e terminando com as que são mais raras. Segundo os dados do Dr. Ring, aproximadamente um em cada sete que se lembram da existência fora do corpo, viu a luz e interagiu com o ser de luz.

Graças ao progresso da medicina, a reanimação dos mortos passou a ser um procedimento quase padrão em muitos hospitais atuais. Antigamente, isso quase não existia. Por isso, existe uma certa diferença entre os relatos da vida pós-morte na literatura antiga, mais tradicional, e na moderna. Os livros religiosos mais antigos contam sobre visões do Paraíso ou do Inferno e sobre encontros com anjos ou demônios. Esses relatos podem se chamar de descrições do "cosmo distante", já que retratam o mundo espiritual distante de nós. Os relatos modernos, anotados pelos médicos, descrevem principalmente quadros do "cosmo próximo": as primeiras impressões da alma que acaba de deixar o corpo. Esses relatos são interessantes, pois complementam a primeira categoria de relatos (dos tempos mais antigos) e nos dão a possibilidade de entender com mais clareza aquilo que espera cada um de nós. Entre estas duas categorias, está a descrição de K. Ixcul, publicada pelo Arcebispo Nikon (Igreja Ortodoxa Russa), em 1916, sob o título "Inacreditável Para Muitos, Mas Aconteceu" que abrange os dois mundos - o "distante" e o "próximo”. Em 1959, esta obra foi reeditada.

K. Ixcul era um típico jovem intelectual da Rússia antes da revolução. Ele foi batizado quando criança e cresceu no meio ortodoxo, mas como era comum entre os intelectuais, era indiferente à religião. Entrava numa igreja de vez em quando, comemorava as festas de Natal e Páscoa e até comungava uma vez por ano, mas considerava muitos ensinamentos do cristianismo católico ortodoxo como superstições arcaicas, inclusive o ensinamento sobre a vida após a morte. Ele tinha certeza de que, com a morte, terminava definitivamente a existência do ser humano. Certa ocasião, ele teve uma grave pneumonia, que não sarava se tornou muito séria. Enfim, foi internado. Ele não pensava sobre a morte que se aproximava, e esperava ficar bom logo e recomeçar suas atividades habituais. Certa manhã, de repente, sentiu-se muito bem. A tosse passou, a febre baixou. Ele pensou que estava curado. Mas, para seu espanto, os médicos ficaram preocupados e trouxeram oxigênio. Depois, calafrios e uma completa apatia por tudo o que ocorria em sua volta. Ele conta:

"Toda a minha atenção concentrou-se em mim mesmo... é como se ocorresse bipartição... apareceu o ‘homem interior’, que tinha total indiferença ao corpo exterior e ao que ocorria com ele... Era espantoso ver e ouvir e ao mesmo tempo sentir desinteresse em relação a tudo. O médico faz uma pergunta, eu ouço, entendo, mas não respondo. Não tenho porque falar com ele... E de repente, fui puxado para baixo, para a terra, por uma força enorme. Eu me agitei. ‘Agonia’, disse o médico. Eu entendia tudo, mas não sentia medo. Lembrei-me de ter lido que a morte é dolorosa, mas não sentia dor. No entanto, sentia um pesar. Eu era puxado para baixo... Eu sentia que algo deveria desprender-se... Fiz um esforço para me libertar e, de repente, senti-me leve. Eu senti paz. Lembro-me claramente do restante. Eu estou em pé no meio do quarto. A minha direita, formando semicírculo em torno da cama, estão os médicos e as enfermeiras. Eu estava surpreso: o que eles estão fazendo lá, já que eu não estou lá, estou aqui? Aproximei-me para olhar. Deitado sobre a cama, estava eu. Ao ver o meu ‘dublê’, não me assustei, mas fiquei surpreso - como é possível? Eu quis tocar em mim mesmo: minha mão atravessou, como se tivesse atravessado o vazio. Não consegui também tocar os outros. Não sentia o chão... Eu chamei o médico, mas ele não reagiu. Eu entendi que estava completamente só, e entrei em pânico. Olhando o meu corpo físico, pensei: 'Será que eu morri?' Mas isso era difícil de admitir. Eu me sentia mais vivo do que antes, sentia tudo e entendia. Após um certo tempo, os médicos saíram do quarto, os dois enfermeiros começaram a discutir detalhes da minha enfermidade e da morte, e a auxiliar fez o sinal da Cruz e em voz alta desejou-me o habitual: ‘Que ele tenha o Reino dos Céus, e paz eterna’. Mal ela pronunciou essas palavras, apareceram dois anjos. Um deles, eu imediatamente o reconheci, era o meu anjo da guarda, o outro eu desconhecia. Os dois anjos, pegando-me sob os braços, levaram-me para a rua, direto através da parede do hospital. Já escurecia e nevava. Eu via isso, mas não sentia nem o frio e nem mudança de temperatura. Nós começamos a subir rapidamente".

Graças às novas pesquisas na área da reanimação e coletando diversos relatos dos sobreviventes à morte clínica, é possível formar um quadro detalhado, sobre o que a alma vivencia logo após a separação do corpo. Claro que cada caso tem suas características individuais, que os outros não têm. É natural, porque quando a alma vai para o "além" é como se ela fosse um bebê recém nascido com a visão e audição ainda não desenvolvidos. Por isso, as primeiras impressões das pessoas têm caráter subjetivo. No entanto, no seu conjunto, elas ajudam a formar um quadro bastante sólido e coeso, ainda que não totalmente compreensível para nós.

A seguir, os momentos mais característicos das experiências do "outro mundo" cuja fonte são os estudos recentes sobre vida após a morte.

1) Visão do "dublê": Tendo morrido, o homem não se dá conta disso, imediatamente. E só depois de se ver deitado e inerte, embaixo de si mesmo, convence que é incapaz de comunicar-se, e percebe que a sua alma saiu do corpo. Às vezes, acontece que, após um desastre inesperado, quando a separação do corpo físico ocorre brusca e inesperadamente, a alma não reconhece o seu corpo e pensa que está vendo alguém parecido com ele. A visão do “dublê” e a incapacidade de comunicar-se provocam um grande choque na alma, de modo que ela não tem certeza se isto é sonho ou realidade.

2) Consciência não rompida: Todos os sobreviventes à morte temporária testemunham que conservaram totalmente o seu "eu" e todas as suas capacidades mentais, sensoriais e de vontade. Mais que isso, a visão e a audição tornam-se até mais aguçadas, o raciocínio fica mais claro e torna-se mais enérgico e a memória torna-se lúcida. Pessoas que he muito tempo perderam alguma capacidade em conseqüência de doença ou da idade, a recuperam. Percebe-se que é possível ver, ouvir, pensar e sentir, mesmo não tendo órgãos físicos. É particularmente fantástico, por exemplo, que um cego de nascença, tendo saído do corpo, viu tudo que era feito com o seu corpo pelos médicos e enfermeiros; e ao retornar, após relatar todo o ocorrido, voltou a ser cego. Os médicos e psiquiatras, que associam as funções de pensar e de sentir aos processos químico-elétricos no cérebro, devem levar em conta esses dados modernos, compilados por médicos - reanimadores para entender corretamente a natureza humana.

3) Alívio: Normalmente, a morte é precedida pela doença e sofrimento.Ao sair do corpo a alma se alegra, pois nada mais dói, nada oprime, nada sufoca, a mente funciona claramente, os sentimentos apaziguados. O homem começa a identificar-se com a alma, e o corpo parece ser algo secundário e inútil, como tudo que é material. "Eu saio, e o corpo é um invólucro vazio" - explica um homem que sobreviveu à morte temporária. Ele assistiu à sua cirurgia cardíaca como se fosse um "espectador." As tentativas de reanimar o seu corpo, absolutamente não o interessavam. Aparentemente, ele tinha se despedido mentalmente da vida terrena e estava pronto para iniciar uma nova vida. Entretanto, permanecia com ele o amor pela família e preocupação com os filhos que deixava. Deve-se notar que, nesse momento, mudanças radicais no caráter do indivíduo não ocorrem. O indivíduo permanece o mesmo que era. "A suposição que, abandonando o corpo, a alma imediatamente passa a conhecer e entender tudo, é falsa. Eu vim para esse novo mundo do mesmo jeito como saí do velho," - conta K. Ixcul.

4) O Túnel e a Luz: Após a visão do seu próprio corpo físico e do ambiente que o rodeia, algumas almas continuam no outro mundo espiritual, enquanto outras não passam pela primeira fase ou não reparam nela e vão direto para o segundo estágio. A passagem para o mundo espiritual, alguns descrevem como sendo uma viagem através do espaço escuro, lembrando um túnel, no final do qual eles vão parar numa região de luz não terrena. Existe um quadro do século XV, de Jerônimo Bosch (1450 - 1516), intitulado "Ascensão ao Empírico" (abaixo) que representa algo semelhante à passagem da alma pelo túnel. Isso pode significar que mesmo naquele tempo alguém já tinha acesso a esse conhecimento.




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A maioria testemunha sobre a Luz, como sendo um “ser” moralmente bondoso, e não como uma energia impessoal, alguém que leva paz e amor. No encontro com a Luz, eles não conversam em nenhum idioma. A Luz se comunica com eles “mentalmente”. Nesse momento, tudo era tão claro, que seria absolutamente impossível esconder algo da Luz.

5. Revisão e julgamento: Alguns, que sobreviveram à morte temporária, descrevem a etapa de “revisão da vida” que tiveram. Às vezes, a revisão ocorria durante a etapa da visão da Luz, quando o homem ouvia da Luz uma pergunta do tipo: “O que você fez de bom?" A pergunta não era feita para se saber algo, mas para que a pessoa pudesse recordar a sua vida. E assim, o “filme” da vida terrena individual “passava” perante sua visão espiritual, começando desde a tenra infância. O “filme da vida” se move como uma sequência de quadros de episódios da vida, um após o outro, e a pessoa vê claramente e com detalhes tudo que aconteceu com ela. Nesse momento, se revive conscientemente e se reavalia tudo aquilo que se viveu. Eis um dos casos típicos que ilustra o processo da revisão: "Quando a Luz chegou, ouvi a pergunta: ‘O que você fez em sua vida? O que pode me mostrar?’ ou algo semelhante a isso. E então, começaram a aparecer esses quadros. Eram quadros muito nítidos, coloridos, tridimensionais e em movimento. Toda a minha vida passou por mim... Eis eu, ainda uma menina pequena, brincando com a irmã perto do riacho... Depois, os acontecimentos da minha casa... escola... casamento... Tudo seguia na minha frente com todos os detalhes minúcias. Eu revivia esses acontecimentos... Eu vi às vezes em que fui cruel e egoísta. Senti vergonha de mim mesma e desejava que isto nunca tivesse acontecido. Mas, era impossível mudar o passado..." (‘Life after life’, pg. 65-68)

Reunindo muitos relatos de pessoas que passaram pela revisão da vida, deve-se concluir que ela sempre deixa nelas uma impressão profunda e benéfica. Realmente, durante essa revisão, a pessoa é forçada a reavaliar seus atos, fazer o balanço do seu passado e assim é como se fizesse um julgamento sobre si mesmo. Na vida diária, as pessoas escondem o lado negativo do seu caráter e escondem-se atrás de uma “máscara de virtude”, para parecerem melhores do que realmente são. A maioria das pessoas está tão acostumada com a hipocrisia, que deixaram de ver o seu verdadeiro eu. Mas, no momento da morte, essa máscara cai e a pessoa se vê tal qual realmente é. Principalmente, no momento da revisão, torna-se visível a cada um os seus atos ocultos: ouve-se cada palavra dita, cada acontecimento esquecido é revivido. Nesse momento, tudo que se conseguiu durante a vida - situação sócio-econômica, diplomas, títulos, etc. perde seu sentido. A única coisa que serve para avaliação é o lado moral dos atos. E, nessa hora, a pessoa se julga não apenas pelo o que ela fez, mas também, como seus atos e palavras influenciaram outras pessoas. Outra pessoa descrevendo a revisão da sua vida:

"Senti-me fora do meu corpo, flutuando sobre um edifício, e vi o meu corpo deitado lá embaixo. Depois, uma luz me envolveu e nela eu vi como se fosse um filme de toda a minha vida. Senti-me muito envergonhado, porque muito do que eu antes considerava normal e aprovava, agora entendi que não era bom. Tudo era extremamente real. Eu sentia que um julgamento ocorria comigo e que uma razão superior me comandava e me ajudava a ver. O que mais me impressionou foi que me foi mostrado não apenas o que fiz mas como meus atos influenciaram outros... Aí eu entendi, que nada se apaga e nem passa em branco, mas que tudo, até os pensamentos, tem consequências." (‘Reflections on Life after Life’, pg. 3,4-5)

Se perguntar a alguém que experimentou a morte clínica, quanto tempo durou este estado, normalmente ele não é capaz de responder. As pessoas perdem completamente a noção do tempo. "Poderia ter sido alguns minutos, ou anos, não há nenhuma diferença" (‘Reflections on Life after Life’, pág.s 101; ‘Recollections of Death’, pág. 15).

7. O aspecto da alma: Quando a alma abandona o seu corpo, desaparecem marcas da idade; as crianças se vêem adultos, os velhos, moços (‘The Light Beyond’, pág. 75-76). As partes do corpo, por exemplo, mãos ou pernas perdidas por algum motivo, aparecem novamente. Os cegos voltam a enxergar.

8. Encontros: Alguns relatam encontros com parentes ou conhecidos já falecidos. Esses encontros às vezes aconteciam em condições terrenas, e às vezes em ambientes do outro mundo. Assim, por exemplo, uma mulher que passou pela morte temporária, ouviu os médicos dizendo aos seus parentes que ela estava morrendo. Tendo saído do corpo, viu seus parentes e amigos falecidos. Ela os reconheceu e eles estavam alegres por reencontrá-la. Outra mulher viu seus parentes que a cumprimentavam e apertavam suas mãos. Eles estavam vestidos de branco, estavam contentes e pareciam felizes: "..E de repente, virando de costas para mim, começaram a afastar-se. A minha avó, virando-se por sobre o ombro, me disse: ‘Nós te veremos mais tarde, não desta vez’. Ela tinha morrido aos 96 anos, mas lá parecia ter 40-45 anos, sadia e feliz". (Life After Life, pág. 55)

10. O Limiar: Alguns, estando no outro mundo, descrevem algo que parece ser uma divisa ou fronteira. Alguns a descrevem como sendo uma cerca ou grade na extremidade de um campo, outros como a beira de um lago ou de um mar, outros ainda como um portão, rio ou nuvem. A diferença na descrição decorre de novo da recepção subjetiva de cada um. O importante, no entanto, é que todos a compreendam exatamente como uma fronteira, atravessando a qual, não há mais retorno ao mundo anterior. Depois dela, começa a viagem para a Eternidade.

11. O Retorno: Às vezes, é dado ao recém-falecido a possibilidade de escolha: ficar ou retornar à vida na Terra. A voz da Luz pode perguntar, por exemplo: "Você está pronto?" Assim, o soldado ferido seriamente no campo de batalha viu seu corpo aleijado e ouviu a voz. Ele pensava que quem conversava com ele era Jesus Cristo. Foi lhe dado a possibilidade de voltar ao mundo terrestre, onde ficaria aleijado, ou ficar no "além." O soldado preferiu voltar. Muitos são atraídos de volta pelo desejo de concluir a sua missão terrena. Tendo voltado, afirmam que Deus permitiu a eles retornar e viver porque a sua missão de vida não estava concluída. Esta escolha foi satisfeita porque ela era fruto do senso de dever e não por motivos egoístas.

12. Uma Nova Atitude em Relação à Vida: Pessoas que estiveram mortas e viveram experiências "extra-físicas" apresentam grandes mudanças. Segundo afirmativa de muitos deles, ao voltar, procuram viver melhor. Muitos deles passaram a crer em Deus com mais convicção, mudaram seu modo de vida, tornaram-se mais sérios e mais profundos. Alguns até mudaram de profissão, indo trabalhar em hospitais e asilos de idosos, para ajudar os que necessitam. Todos os relatos de pessoas que passaram por morte temporária falam de fenômenos totalmente novos para a ciência, mas não para as religiões.

Mas nem todos os temporariamente mortos viram a luz. Os estudos detalhados do Dr. Ring mostram que a Luz aparece a uma porcentagem relativamente pequena das pessoas que tiveram experiências de morte temporária. Dr. Maurice Rawlings, que reanimou pessoalmente muitos moribundos, afirma que, percentualmente, o número de pessoas que vêem trevas e horrores é tecnicamente o mesmo do que as que vêem a Luz. Essa é a opinião também do Dr. Charles Garfield, que lidera pesquisas na área dos estados próximos à morte. Ele escreve: "Nem todos morrem de uma forma tranquila e agradável... Entre os pacientes questionados por mim, há quase o mesmo número de pessoas que experimentaram sensações desagradáveis e/ou encontros com seres semelhantes ao demônio, quanto as que tiveram sensações agradáveis. Alguns deles experimentaram ambas as sensações" (10, pág. 54-55).

Há base para supor que muitos, consciente ou inconscientemente, calam sobre suas sensações desagradáveis pós-morte. A impressão do Dr. Rawlings é que algumas visões são tão horríveis que o inconsciente das pessoas que as viram, automaticamente as apaga da memória (esquecimento seletivo). No seu livro, traz exemplos dessas amnésias. Além disso, pessoas que tiveram visões luminosas demonstram uma maior disposição para relatar suas experiências do que as que tiveram visões terríveis. Desta forma, foram detectados dois fatores que desequilibram a preponderância dos relatórios: a) o processo da amnésia seletiva e b) não querer “espalhar” coisas ruins a respeito de si mesmo.

Tudo leva a crer que essas diferenças radicais na qualidade das experiências depende diretamente daquilo que a pessoa foi em vida. Dependem, basicamente, do que ela acredita e de qual foi o seu modo de vida até a experiência. Os suicidas, especialmente, vivem experiências aterrorizantes. A impressão comum dos médicos reanimadores é que o suicídio provoca um terror realmente extraordinário. Dr. Bruce Greyson, psiquiatra do setor do pronto-socorro junto à Universidade de Connecticut, tendo estudado essa questão, testemunha que, "dentre os que passaram pela morte temporária, ninguém, por nada, quer acelerar o fim da sua vida". Apesar do "outro mundo" ser incomparavelmente melhor que o nosso, a nossa vida aqui tem um significado preparatório muito importante. Somente Deus decide quando o homem está suficientemente maduro para a eternidade.

O conhecido pesquisador Carl Osis testemunha que, durante a pesquisa na Índia, revelou-se que durante o processo da morte aproximadamente um terço dos hindus experimenta medo, depressão e grande nervosismo pela aparição de "yamdats”, os demônios do além. Aparentemente, o hinduismo pode proporcionar uma aproximação com forças indesejáveis, o que se manifesta em visões assustadoras nos momentos que precedem a morte.

Segundo o Bispo Alexander Mileant, da Igreja Ortodoxa Russa: "Se o homem é orgulhoso e deseja ardentemente ver algo sobrenatural, milagroso, algo que outras pessoas não conseguem, ele se encontra em grande perigo de tomar o demônio por anjo. Na literatura espiritual, este estado chama-se 'sedução' (‘pvélest’ em russo). Correm perigo de cair nesta 'sedução' os servidores de Deus vaidosos, os 'profetas' e curandeiros autodenominados e também pessoas que praticam mística pouco saudável... Dos relatos das pessoas que passaram por morte temporária não se apreende que eles praticassem algo semelhante. Na maioria dos casos, eram pessoas comuns, que por força de uma ou outra doença física morreram, mas, graças aos esforços dos médicos e ao sucesso da medicina moderna, foram reanimadas. Elas não esperavam ter nenhuma visão sobrenatural, e aquilo que lhes foi dado ver, foi obra da Misericórdia Divina, para que elas encarassem a vida de uma forma mais séria. Nos livros ortodoxos a respeito da vida pós morte há relatos sobre aparições de demônios aos moribundos e sobre a passagem das almas. No entanto, esses livros mostram que os demônios, normalmente, começam a atemorizar a alma após a chegada do anjo da guarda, que a acompanha no caminho ao Trono de Deus. Além disso, na presença do anjo, os demônios são obrigados a mostrar-se com sua real aparência abominável. Deus, por sua Misericórdia, mostra essa Luz maravilhosa para reforçar a vida na virtude. O contato com essa Luz sempre revela sentimentos de paz e felicidade. A luz do demônio, ao contrário, traz consigo um sentimento de obscura inquietação. Ela incute no homem um sentimento de superioridade, promete conhecimentos, mas não há amor nela, é uma luz fria".

A Sra. Beverly, aos 47 anos (um caso famoso entre os especialistas), contou como está feliz por estar viva. Desde a infância, ela sofreu muito nas mãos de pais cruéis que a torturavam diariamente. Já na maturidade, ela não podia contar sobre sua infância sem ficar estressada. Uma vez, quando estava com 7 anos, levada ao desespero pelos pais, atirou-se no chão de cabeça para baixo e quebrou a cabeça no piso. Durante a sua morte clínica, sua alma viu as crianças, suas conhecidas, em torno do seu corpo inerte. De repente, uma luz brilhante apareceu, e uma voz desconhecida lhe disse: "Você cometeu um erro, sua vida não lhe pertence e você deve voltar". Beverly retrucou: "Mas ninguém me ama e ninguém quer cuidar de mim". - "Isso é verdade" - disse a voz - "e no futuro ninguém vai cuidar de você. Por isto, aprenda a se cuidar". Após estas palavras, Beverly viu neve à sua volta e uma árvore seca. Mas, de algum lugar veio calor, a neve derreteu e os galhos secos da árvore cobriram-se de folhas e de maçãs maduras. Então aproximou-se da árvore e começou a colher as maçãs e a comê-las, o que lhe deu muito prazer. Nesse momento compreendeu que, assim como na natureza, cada vida tem seus períodos de inverno e de verão, os quais constituem um Todo no Grande Plano. Quando Beverly reviveu, ela começou a encarar a vida de uma maneira completamente nova. Tendo crescido, casou-se com um homem carinhoso e compreensivo, teve filhos e foi feliz .


Fontes e bibliografia:

MOODY, Raymond A. MD. Life after Life, New York: Bantam Books, 1978;
MOODY, Raymond A. MD. Reflections on Life after Life, New York: Bantam Books, 1978;
MOODY, Raymond A. MD. The Light Beyond, New York: Bantam Books, 1978;
MORSE, Melvin, MD. Closes to the Light, New York: Ivy Books, 1990;
SABOM, Michael, MD. Recollections of Death, New York: Harper & Raw Publishers, 1982;
RING, Kenneth, PhD. Life at Death, New York: QUILL, 1982;
MORSE, Melvin, MD. To Hell and Back, New York: Ivy Books/Ballantine Books, 1990;
ROSE, Hiero Monge Seraphim. The Soul After Death, California: Saint Herman of Alaska Brotherhood/Platina, 1980;
ANKENBERT, J. & WELDON, J. The Facts of Life After Death, Oregon: Harvest House Publishers/Eugene, 1992;
KASTENBAUM, Robert. Is There Life After Death?, New York: Prentice Hall, 1984;

* Este artigo é baseado nos textos do Bispo Alexander Mileant, da Igreja Ortodoxa Russa.


Retirado do blog: http://vozdaigreja.blogspot.com

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