quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pedra, papel e tesoura: a hierarquia do seu arsenal em um MTT


Antes de mais nada quero deixar bem claro que a autoria desta analogia não é minha, mas sim de Arnold Snyder, autor de diversos livros de Blackjak e pôquer, entre eles o The Poker Tournament Formula, onde a tal comparação é apresentada. Bom, mas então vamos ao que interessa...

Todos devem conhecer o jogo pedra, papel e tesoura, mas para quem não sabe é o seguinte: este é o jogo de RPG mais elementar que existe, basta escolher uma arma e desafiar o adversário, a melhor arma no duelo vence. A hierarquia é da seguinte forma: a pedra quebra (vence) a tesoura; a tesoura corta (vence) o papel; e por sua vez o papel embrulha (vence) a pedra. Simples, não é? Sabido isso o jogo é jogado como um par ou impar, mas ao invés de números utilizam-se os símbolos com as mãos, onde a pedra é o punho cerrado, o papel é a mão aberta e a tesoura é o vê de vitória do Senna (apenas o indicador e o dedo médio levantados).

Bom, agora você deve estar se perguntando, mas e o que isso tem a ver com o pôquer? Acontece que em torneios de múltiplas mesas (MTT), especialmente nos torneios considerados rápidos (onde os blinds crescem rapidamente e chega-se á mesa final com a maioria dos jogadores short stack) você tem um arsenal composto por três armamentos: suas cartas, sua posição e sua pilha de fichas. E assim como no joguinho elementar, no pôquer, que de elementar não tem nada, também existe uma hierarquia entre as armas.

A primeira impressão pode ser de que as cartas ganham sempre, mas não é bem assim. Boas cartas podem ganhar, mas elas são raridades. Quantas vezes em um torneio você flopa o nuts? Se você se convenceu disso será mais fácil concordar com a analogia. Então no pôquer as fichas representam a pedra; a tesoura é sua posição na mesa e as cartas são o papel. Isto mesmo as cartas vencem as fichas, as fichas vencem a posição e a posição vence as cartas!!!

Fácil? Nem tanto, mas vou tentar explicar. De qualquer forma sugiro que leiam o livro de Snyder para uma explicação mais detalhada e uma compreensão mais ampla.

A parte mais simples de aceitar é: As cartas vencem as fichas (o papel embrulha a pedra). Isso nada mais significa que com boas cartas você não precisa temer o chip leader de sua mesa, bem pelo contrário você quer definitivamente ele, pois poderá dobrar seu stack! Simples e óbvio.

Um pouco mais sutil é: Fichas vencem posição (a pedra quebra a tesoura). Você se sente confortável ao pagar um aumento ou mesmo re-aumentar o chip leader da mesa simplesmente por saber que falará depois dele após o flop? Eu não, a não ser que eu tenha cartas!! O que Snyder quer dizer é que as fichas impõem respeito e você pode jogar mais solto com uma considerável pilha de fichas em sua frente, se beneficiando da pressão que você poderá exercer sobre seus adversários com o poder das fichas. Da mesma forma que você deverá respeitar um adversário bem munido quanto você está mais apertado ou mesmo em uma situação intermediária no que diz respeito ao volume do seu stack.

Agora o ponto delicado e mais sensacional: Posição vence cartas (a tesoura corta o papel)!!! Essa é realmente difícil de engolir, mas vamos lá. Como eu já disse, quando falo em cartas não me refiro a grandes jogos, pois estes são exceção. Refiro-me as cartas distribuídas de forma aleatória, onde sabemos que na maioria das vezes temos jogos razoáveis. Dito isto, a questão é a seguinte: aprenda a jogar sua posição para acumular fichas de forma contínua em um torneio rápido. As cartas boas vem de vez em quando de forma aleatória, um stack consistente (para poder jogar as fichas) depende de seu sucesso durante o torneio, mas a posição se alterna de forma ordenada entre todos os participantes do torneio e cabe a você utilizá - la de forma adequada e tirar proveito dela a cada oportunidade.

A sugestão do Snyder para praticar o jogo de posição é jogar sem olhar suas cartas de acordo com o seguinte esqueminha:

De qualquer umas das posições finais (Button, Cut off ou hijak seat) dê um raise padrão (3 à 4 vezes o valor do big blind) sempre que ninguém tiver entrado no jogo antes de você. Se for pago por um dos blinds e o adversário der check no flop aposte metade do pote. Se essa situação se repetir no turn faça o mesmo (enquanto o adversário apenas pagar e der check aposte você metade do pote). Vá até o river!!! Caso ele aposte antes de você ou dê reraise não exite em correr.

Se estiver no Button e um advesrário tiver feito um aumento padrão pague e siga a mesma estratégia para o flop, turn e river citados no parágrafo anterior. A mesma coisa se um ou mais adversários tiver entrado de limp, pague e aposte nas rodadas seguintes se eles demonstrarem fraqueza.

Parece loucura? Na verdade o que você está fazendo é jogar as cartas do adversário. E como na maioria das vezes as cartas não são realmente fortes você ganhará!! É claro que você poderá ser pego de vez em quando, quando encontrar um calling station por exemplo, que vai pagar até o fim sem apostar uma vez sequer, mas aí vai a sua leitura também. Nem tudo é tão simples, mas de qualquer forma vale o teste. Garanto que você vai se surpreender assim como eu me surpreendi com o resultado.

Para concluir gostaria de reforçar que este tipo de estratégia tem valor em torneios rápidos. De acordo com Snyder estes são torneios onde o jogador mais tight do mundo (aquele que só joga com par de azes naipados!!!) será engolido pelos blinds em no máximo duas horas e meia (em torneios live). No livro o autor explica muito bem como adaptar a estratégia de jogo ao ritmo do torneio e para isso é preciso levar em conta a quantia inicial de fichas, a estrutura dos blinds e o intervalo de cada nível. É uma abordagem bem interessante e diferenciada da maioria dos livros que já vi. Vale a pena!!!

Bom, então agora afiem suas tesouras e aproveitem esta poderosa arma! E depois comentem suas experiências comigo pelo e-mail serguem@gmail.com. Para quem quiser eu tenho também uma planilha resumo da relação entre cartas, posição e stack na estratégia básica defendida por Snyder e posso passar por e-mail.

Grande abraço, Serguem Trott.

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